TAVI pós-endocardite: contraindicação ou última alternativa?

O implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) pode ser uma alternativa para as valvas aórticas com endocardite tratadas com sucesso com antibióticos mas que deixaram uma lesão valvar severa. 

TAVI post endocarditis

O risco de nova endocardite em um ano foi baixo e a mortalidade foi similar à dos pacientes sem o antecedente de infecção. 

O objetivo deste trabalho foi avaliar a segurança e os resultados do TAVI a médio prazo no contexto de uma valva com lesão residual por endocardite infecciosa apesar do tratamento antibiótico. 

Este tipo de pacientes são usualmente descartados pelos cirurgiões e, ao mesmo tempo, o TAVI não é uma opção recomendável. 

Foi feita uma análise retrospectiva de 46 pacientes de 10 centros que foram emparelhados por sexo, EuroSCORE, função renal, função ventricular e tipo de prótese (entre outras variáveis) para serem comparados com uma coorte idêntica com exceção do antecedente de endocardite. 


Leia também: Para igual dose de contraste diferente risco de injúria renal de acordo com o procedimento.


Em comparação com a população geral submetida a TAVI, os pacientes que tinham o antecedente de endocardite apresentaram mais frequentemente lesão em outras valvas e um risco cirúrgico muito maior. Também foi muito mais frequente o antecedente de uma prótese biológica prévia em posição aórtica (50% vs. 7,5%; p < 0,001). 

A mortalidade em 30 dias e em um ano foi de 5,6% e de 11,1%, respectivamente. Números comparáveis com a coorte de controle. 

A insuficiência aórtica de grau III/IV foi significativamente superior no grupo com antecedente de endocardite (27,9% vs. 10%; p = 0,08) e isso se associou de maneira independente a maior mortalidade. Observou-se somente um caso de recidiva de endocardite, embora 18% dos pacientes tenham evoluído com sepse e 43% tenham sido reinternados no transcurso de um ano por insuficiência cardíaca. 

Conclusão

O TAVI é uma alternativa terapêutica para tratar a lesão residual da valva pós-endocardite. Após um ano o risco de recidiva da endocardite foi baixo e a mortalidade foi comparável em uma população de igual risco, mas sem antecedente de endocardite. Apesar do anteriormente afirmado, um quarto dos pacientes evoluiu com insuficiência aórtica severa e a metade requereu reinternação. 

Título original: Transcatheter Aortic Valve Replacement for Residual Lesion of the Aortic Valve Following “Healed” Infective Endocarditis.

Referência: Sandra Santos-Martínez et al. J Am Coll Cardiol Intv 2020;13:1983–96. https://doi.org/10.1016/j.jcin.2020.05.033.


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