A calcificação coronariana dificulta não só o deslocamento do stent mas também o seu implante, e está associada a um maior risco de complicações, sendo a pior delas a perfuração coronariana.
Por sua vez, a presença dessas calcificações dificulta a preparação das placas coronarianas, o que leva ao implante de um stent subexpandido (SS), sendo este um forte preditor de reestenose e de trombose precoce.
Para o manejo dos SS contamos com um arsenal terapêutico limitado, como são as dilatações prolongadas com balões não complacentes a alta pressão e, de forma off-label, podemos mencionar a aterectomia rotacional/orbital e o uso de Excimer Laser (não disponível em muitos lugares).
Nos últimos tempos, tem se consolidado a litotripsia intravascular (IVL) tem se consolidado como uma alternativa no tratamento dos SS, com escasso nível de evidência devido ao fato de dispormos somente de relato de casos, diferentemente de seu uso nas lesões calcificadas nativas (DISRUPT-CAD).
Dita escassez de evidência impulsionou a realização do registro CRUNCH, com o objetivo de avaliar a segurança e a eficácia do IVL para o tratamento dos SS por calcificação coronariana.
Trata-se de um registro multicêntrico internacional, que incluiu 70 pacientes, com uma idade média de 73 anos, 52% SCA, com colocação prévia de stents (de 30 dias até mais de 5 anos da colocação), ou como terapia de resgate em uma angioplastia recente (41% dos casos).
A quantificação foi feita mediante uma análise coronariana quantitativa (QCA), IVUS e OCT (a critério do operador). Foram tomadas referências da área do vaso, área luminal mínima e área mínima do stent e a avaliados os desfechos de eficácia, que foram uma combinação de sucesso técnico e porcentagem de diâmetro estenosado ≤ 50% (DS %) e desfechos de segurança (MACE).
O DS % mostrou uma diferença relativa de 57% (p < 0,001), com uma diferença de diâmetro luminal mínimo medido por QCA de 49% (p < 0,001) e um ganho mínimo na área luminal (IVUS) pós-IVL de 60,7% (p < 0,001). A estádia hospitalar média foi de 2 dias, sem relatos de MACE. Na análise multivariada observou-se que o IVL como resgate ou localização ostial do SS impactaram negativamente no ganho do diâmetro luminal.
Conclusões
O sistema IVL apresentou uma alta taxa de sucesso técnico, com ganhos significativos na área luminal a na área do stent, persistindo dois cenários não ótimos que são o resgate (bailout) e a localização ostial. Por sua vez, não foram observadas complicações relacionadas com o procedimento nem MACE.
Considerando que se trata de um registro, os dados que mostra são favoráveis ao tratamento com IVL. Ainda resta conseguir maior número de pacientes e realização de estudos randomizados para adotar esta terapêutica como ferramenta validada para o tratamento dos SS.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org
Título Original: Coronary lithotripsy for the treatment of underexpanded stents the international multicentre CRUNCH registry.
Referencia: Tovar Forero, M. N., Sardella, G., Salvi, N., Cortese, B., di Palma, G., Werner, N., Aksoy, A., Escaned, J., Salazar, C. H., Gonzalo, N., Ugo, F., Cavallino, C., Sheth, T. N., Kardys, I., Van Mieghem, N. M., & Daemen, J. (2022). Coronary lithotripsy for the treatment of underexpanded stents; the international multicentre CRUNCH registry. EuroIntervention: Journal of EuroPCR in Collaboration with the Working Group on Interventional Cardiology of the European Society of Cardiology. https://doi.org/10.4244/EIJ-D-21-00545.
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