Existem controvérsias a respeito do implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) em casos de alta complexidade anatômica, como na aorta horizontal (AH). Isso se deve principalmente ao fato de a angulação aórtica (AA) não ter demonstrado impactar no procedimento conforme os diferentes tipos de válvulas utilizados. Como já foi previamente estudado, a angulação dificulta o cruzamento, o implante e o posicionamento coaxial com alinhamento comissural.
No estudo apresentado por Eckel C. et al., utilizando-se uma análise de propensão foram comparados os desfechos clínicos da válvula autoexpansível ACURATE Neo2 e da válvula balão-expansível Edwards SAPIEN Ultra. Incluíram-se retrospectivamente pacientes consecutivos tratados com TAVI transfemoral desde janeiro de 2017 até janeiro de 2023, utilizando os sistemas Ultra e Neo2 em dois centros de alto volume da Alemanha.
A AA foi medida como o ângulo entre o segmento basal virtual do anel aórtico e o plano horizontal. Estabeleceu-se com AA horizontal toda aquela que era superior a 48°, e como severa toda aquela cujo ângulo era superior a 51,7° (medidos por 3Mensio no plano coplanar).
O desfecho primário (DP) foi a mortalidade intra-hospitalar, a necessidade de medidas de resgate durante o procedimento e o sucesso técnico. O desfecho secundário incluiu a mortalidade em 30 dias, o acidente vascular cerebral em 30 dias e o sucesso do dispositivo em 30 dias, bem como as complicações relacionadas com o procedimento.
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A coorte final incluiu 492 pacientes (Neo2 n = 246; S3 Ultra n = 246), com uma idade média de 81,9 anos, dentre os quais 43,9% eram mulheres. O grupo Neo2 teve uma maior taxa de pré-dilatação (18,0% vs. 93,9%; p < 0,001) e de pós-dilatação (6,3% vs. 33,7%; p < 0,001), com um alto sucesso técnico em ambos os casos (93,1%). Ao avaliar o sucesso do dispositivo, observou-se um rendimento significativamente menor com as válvulas Ultra (80,5% vs. 88,6%; p = 0,018), devido principalmente a um maior índice de gradientes elevados (≥ 20 mmHg; 11,9% vs. 1,6%, p < 0,001). Os índices de migração de dispositivo e embolização (0,4% vs. 2,0%; p = 0,216), bem como as manobras de resgate (0,8% vs. 0,4%; p = 1,000) foram comparáveis em ambos os dispositivos.
Não houve diferenças estatísticas em termos de mortalidade por todas as causas (1,3% vs. 2,7%; p = 0,330). Contudo, ao analisar as variáveis hemodinâmicas relacionadas com o rendimento valvular a longo prazo, evidenciou-se uma superioridade hemodinâmica a favor da Neo2, com uma menor incidência de PPM (12,0 vs. 3,3%; p = 0,001) e menores gradientes.
No tocante à presença de regurgitação perivalvar (PVL), as válvulas balão-expansíveis apresentaram uma menor incidência de PVL ao menos moderado (0,0% vs. 3,3%; p = 0,007).
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Ao estratificar a angulação em leve (20-43°), moderada (43-50,3°), severa (50,4-56,1°) ou extrema (56,2-87°), observou-se uma profundidade de implante nas angulações severas e extremas (5,0 mm vs. 5,0 mm vs. 4,0 mm vs. 4,0 mm; p = 0,031), com uma maior PVL numérica (1,6% vs. 0,7% vs. 3,1% vs. 1,5%; p = 0,070).
Conclusões
O implante valvar correto em aortas horizontais com TAVI foi possível com um alto índice de sucesso técnico. Nesta série, evidenciou-se que a Neo2 apresentou uma menor incidência de gradientes pós-procedimento. A característica da estrutura curta do stent e os arcos estabilizadores da Neo2 poderiam permitir um maior poder coaxial e uma maior estabilidade, justificando dita vantagem hemodinâmica.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Outcomes of transfemoral TAVR using two new‐generation devices in patients with horizontal aorta.
Referência: Eckel C, Kim WK, Wasif B, Grothusen C, Elsässer A, Dohmen G, Charitos EI, Sossalla S, Möllmann H, Blumenstein J. Outcomes of transfemoral TAVR using two new-generation devices in patients with horizontal aorta. Catheter Cardiovasc Interv. 2024 Jun 11. doi: 10.1002/ccd.31094. Epub ahead of print. PMID: 38860614.
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