O acesso radial é a via de escolha na maioria dos procedimentos coronarianos devido à redução nas taxas de mortalidade demonstradas em comparação com o acesso femoral. Contudo, uma de suas complicações mais frequentes – embora habitualmente silente – é a oclusão da artéria radial (RAO).
Prevenir a RAO é fundamental para preservar o acesso vascular futuro e manter opções cirúrgicas disponíveis, como enxertos ou fístulas. Em dito contexto, o acesso radial distal (dTRA) ganhou popularidade, do mesmo modo que o uso de anticoagulação periprocedimento (AC), embora a evidência continue sendo limitada a relatos de pacientes.
O objetivo do estudo apresentado por Stiermaier et al., do University Heart Center Lübeck (Alemanha), foi avaliar – mediante design fatorial 2×2 – se o dTRA e a anticoagulação periprocedimento podem reduzir a incidência de RAO e os eventos hemorrágicos em pacientes submetidos a coronariografia diagnóstica (CCG).
O estudo RAPID foi um ensaio randomizado unicêntrico e aberto, que comparou dTRA vs. cTRA e AC vs. sem AC em 439 pacientes submetidos a CCG diagnóstica. Foram excluídos pacientes com indicação de intervenção coronariana percutânea (PCI) no evento índice, RAO conhecida ou artéria radial de difícil palpação. O desfecho primário (DP) foi a presença de RAO (avaliada por ecografia Doppler) e sangramento (segundo classificação BARC).
A população analisada consistiu em 439 pacientes; a idade média foi de 73 anos, com 56,7% de participação de indivíduos do sexo masculino e 36,9% estando sob terapia anticoagulante oral. O acesso radial direito foi o mais utilizado (93%) e a nitroglicerina endovenosa “upstream” foi administrada em 33,4% dos casos.
Nesta coorte, o acesso distal não reduziu a incidência de RAO (20,3% vs. 21,2%; p = 0,810) nem o sangramento (11,4% vs. 4,1%), a maior necessidade de cruzamento (14,9% vs. 8,3%) e a maior duração do procedimento (25 vs. 20 minutos; p = 0,001). Além disso, a experiência subjetiva de dor foi maior com dTRA.
Por outro lado, a anticoagulação periprocedimento reduziu significativamente a RAO (7,3% vs. 33,9%; p < 0,001), sem incrementar o risco de sangramento (7,3% vs. 3,6%; p = 0,087). Tal benefício foi consistente em subgrupos com dTRA e em pacientes em anticoagulação oral prévia. As hemorragias observadas foram todas leves (BARC 1-2).
Conclusões
A anticoagulação sistemática durante a CCG diagnóstica reduz de maneira significativa a incidência de RAO, inclusive em pacientes com anticoagulação crônica ou com dTRA. Em contraste, neste estudo o acesso radial distal não mostrou benefícios clínicos e se associou a tempos mais longos de procedimento.
Título original: Distal access and procedural anticoagulation to prevent radial artery occlusion after coronary angiography – the randomised RAPID trial.
Referência: Stiermaier T, Grünewälder M, Pätz T, Rawish E, Joost A, Meusel M, et al. Distal access and procedural anticoagulation to prevent radial artery occlusion after coronary angiography: the randomised RAPID trial. EuroIntervention. 2025;21:e366–e375. doi:10.4244/EIJ-D-24-00846.
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