O acesso radial deixa a bivalirudina sem margem de benefício

bivalirudina-heparina-anticoagulantesO objetivo deste trabalho foi comparar a bivalirudina com a heparina em pacientes admitidos cursando um infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST e tratados com angioplastia primária por acesso radial.

 

Tanto a bivalirudina quanto o acesso radial são estratégias que têm como objetivo principal diminuir complicações hemorrágicas em pacientes com uma síndrome coronariana aguda em curso. No entanto, o benefício de usá-las combinadamente não está claro. Embora ambas tenham o mesmo objetivo, o acesso radial só pode diminuir o sangramento relacionado ao acesso, diferentemente da bivalirudina, que tem o potencial de diminuir qualquer sangramento. Aproximadamente 40% de todos os sangramentos se relacionam com o acesso e o restante está relacionado com outros pontos, como o aparelho digestivo.  

 

Estudos recentes que avaliaram a angioplastia primária por acesso radial não mostraram que a bivalirudina seja superior à heparina.

 

Neste trabalho, foram avaliados 67.368 pacientes do registroNational Cardiovascular Data Cath PCI, dentre os quais 29.660 receberam bivalirudina e 37.708 receberam heparina. Depois do ajuste por múltiplas variáveis, o OR para o desfecho combinado de morte, infarto e AVC para bivalirudina vs. heparina foi de 0,95 (IC 95% 0,87 a 1,05; p = 0,152), e o OR para trombose de stent foi de 2,11 (IC 95% 1,73 a 2,57), o que significa o dobro de chances de trombose de stent com bivalirudina.

 

A taxa de sangramento maior foi similar entre os dois grupos.

 

Conclusão

Para pacientes que recebem angioplastia primária por acesso radial e são anticoagulados com heparina vs. bivalirudina, não foram observadas diferenças no que se refere a morte, infarto ou AVC entre as duas drogas.

 

Comentário editorial

Com todas as limitações que podem ter os registros frente a estudos randomizados, este trabalho de alguma forma responde à pergunta que vários trabalhos menores e metanálises vinham antecipando: não tem sentido combinar acesso radial com bivalirudina.

 

O acesso radial anula quase a metade do potencial benefício que tem a bivalirudina no que se refere a sangramento (entenda-se aqui sangramento relacionado ao acesso), e, apesar de em teoria ainda restar margem (por exemplo, os sangramentos digestivos), este estudo com mais de 67.000 pacientes não pôde demonstrá-la.

 

Este trabalho só tinha pacientes com acesso radial, mas outros que tiveram a possibilidade de combinar ambos os acessos e ambas as drogas (como por exemplo o de George S. Mina publicado no J. Am Coll Cardiol Intv. 2016) também chegaram a conclusões muito interessantes. Não só o acesso radial anula o benefício da bivalirudina, mas também esta última anula o benefício do acesso radial.

 

Isso, que parece um jogo de palavras, poderia se traduzir da seguinte maneira: nos pacientes agudos, caso seja usado o acesso radial, a anticoagulação com heparina é suficiente; ao contrário, caso seja utilizado o acesso femoral, a bivalirudina é superior.

 

Título original: Intervention for ST-Segment Elevation Myocardial Infarction Via Radial Access, Anticoagulated With Bivalirudin Versus Heparin. A Report From the National Cardiovascular Data.

Referencia: Ion S. Jovin et al. J Am Coll Cardiol Intv 2017, epub ahead of print.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

AHA 2025 | DAPT-MVD: DAPT estendido vs. aspirina em monoterapia após PCI em doença multivaso

Em pacientes com doença coronariana multivaso que se mantêm estáveis 12 meses depois de uma intervenção coronariana percutânea (PCI) com stent eluidor de fármacos...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

AHA 2025 | DECAF: consumo de café vs. abstinência em pacientes com FA — recorrência ou mito?

A relação entre o consumo de café e as arritmias tem sido objeto de recomendações contraditórias. Existe uma crença estendida de que a cafeína...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...