Os 10 mandamentos das cardiopatias congênitas do adulto

As cardiopatias congênitas do adulto são crônicas e requerem um acompanhamento adequado de parte de especialistas. Dito acompanhamento é fundamental para diagnosticar a tempo complicações específicas e muito variáveis. 

A recente publicação das diretrizes da sociedade europeia de cardiopatia sobre o manejo das cardiopatias congênitas obriga-nos a fazer uma revisão dos pontos mais importantes. Utilizamos aqui o modelo dos “10 mandamentos”, como já fizemos com outras diretrizes. 

  • A ecocardiografia continua sendo o estudo de primeira linha, embora as imagens possam ser requeridas para quantificar os volumes do ventrículo direito ou de seu trato de saída, quantificar a insuficiência pulmonar, avaliar as artérias ou as veias pulmonares, colaterais, etc. 
  • O teste cardiopulmonar e as medições dos níveis de neuro-hormônios têm um papel fundamental no seguimento e também para decidir o momento de intervir ou realizar uma nova intervenção. 
  • O cateterismo cardíaco é mandatório em pacientes com sinais de hipertensão pulmonar para determinar a resistência vascular. No resto dos casos, dito procedimento deve ser reservado para resolver um problema específico. O limiar para levar um paciente à sala de hemodinâmica deve ser baixo naqueles que foram submetidos a cirurgia de Fontan e desenvolveram qualquer tipo de problema.   

Leia também: Nível NT-proBNP identifica quem se beneficia e quem não se beneficia com o TAVI.


  • Há cada vez mais possibilidades de tratar cardiopatias congênitas por cateterismo. A oclusão com dispositivo com a anatomia indicada é de primeira escolha para a comunicação interatrial e o duto. Nas comunicações interventriculares os procedimentos percutâneos podem ser uma opção à cirurgia, especialmente para os defeitos residuais, defeitos com um acesso difícil para um procedimento cirúrgico ou defeitos musculares localizados centralmente. A valvoplastia com balão é a primeira opção para as estenoses pulmonares. Quando esta for tecnicamente factível os stents podem ser uma excelente opção para a coartação da aorta. 
  • O implante percutâneo da valva pulmonar é preferível à reoperação em pacientes sem trato de saída do ventrículo direito nativo (homoenxertos, biopróteses, etc.). 
  • As arritmias (incluindo a morte súbita) são uma das complicações mais frequentes e requerem um tratamento multidisciplinar. A indicação de ablação por cateter, de implante de cardiodesfibrilador ou marca-passo deve ser tomada em equipe.
  • A insuficiência cardíaca é a principal causa de morte. Deve-se resolver qualquer problema que potencialmente possa ser a causa da insuficiência cardíaca e seja passível de ser tratado por cateterismo ou cirurgia antes de iniciar o tratamento convencional para a insuficiência cardíaca. 

Leia também: Os aneurismas de aorta tratados com Endologix AFX requerem um seguimento especial.


  • A hipertensão pulmonar é um importante fator prognóstico em pacientes com cardiopatias congênitas e requer especial atenção em mulheres grávidas e durante qualquer intervenção, seja ela cirúrgica, seja por cateterismo. É necessário fazer uma avaliação hemodinâmica meticulosa para distinguir entre a hipertensão pré-capilar (média pulmonar > 20 mmHg, wedge < ou igual a 15 mmHg, resistências pulmonares < 3 unidades Wood), hipertensão pós-capilar isolada (média pulmonar > 20 mmHg, wedge > 15 mmHg e resistência e resistências < 3 unidades Wood) ou a combinação de ambas.
  • Deve-se aconselhar sobre o risco de gravidez, incluindo o conselho genético. Embora a maioria das pacientes possa tolerar bem a gravidez, há casos específicos nos quais é prudente desaconselhar. A hipertensão pulmonar, a disfunção sistólica severa, a classe funcional III/IV, ventrículos direitos em posição sistêmica com deterioração, cirurgia de Fontan com qualquer complicação, estenose mitral, estenose aórtica ou coartação sintomáticas devem contraindicar a gravidez. 
  • As complicações tardias são específicas e muito variadas, sem mencionar o enorme espectro de cardiopatias congênitas existentes. Isso torna mandatório colocar ênfase na necessidade de tratamento em centros especializados. 
ehaa554

Título original: The ‘Ten Commandments’ in Adult Congenital Heart Disease Guidelines From the 2020 European Society of Cardiology Guidelines for the Management of Adult Congenital Heart disease.

Referência: Eur Heart J. 2020 Oct 27;ehaa702. Online ahead of print doi: 10.1093/eurheartj/ehaa702. 


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

Bons resultados da válvula Sapien em posição Pulmonar

A válvula Sapien continua cumprindo em trabalhos para os quais não foi desenhada. Recentemente publicamos o sucesso da válvula balão-expansível Sapien quando utilizada em...

Intervenção em Cardiopatias Congênitas

Veja novamente nosso Webinar sobre  "Intervenção em Cardiopatias Congênitas" em nossa conta do YouTube.

Critérios para reprogramar procedimentos em época de pandemia

Os pacientes com cardiopatias estruturais estão expostos a um maior risco perante a infecção pelo novo coronavírus tanto devido à idade avançada quanto às...

Incidência de câncer em pacientes adultos com cardiopatias congênitas

Os adultos com cardiopatias congênitas estão expostos a doses acumulativas de radiação pelos múltiplos cateterismos a que são habitualmente submetidos. Devido ao fato de tais procedimentos se...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Estudo TRI-SPA: Tratamento borda a borda da valva tricúspide

A insuficiência tricúspide (IT) é uma doença associada a alta morbimortalidade. A cirurgia é, atualmente, o tratamento recomendado, embora apresente uma elevada taxa de...

Estudo ACCESS-TAVI: Comparação de dispositivos de oclusão vascular após o TAVI

O implante transcatéter da valva aórtica (TAVI) é uma opção de tratamento bem estabelecida para pacientes idosos com estenose valvar aórtica severa e sintomática....

Tratamento endovascular da doença iliofemoral para melhorar a insuficiência cardíaca com FEJ preservada

A doença arterial periférica (EAP) é um fator de risco relevante no desenvolvimento de doenças de difícil tratamento, como a insuficiência cardíaca com fração...