A queixa dos cirurgiões em estenose aórtica de baixo risco

Estudos recentes que incluíram pacientes de baixo risco mostraram resultados positivos a favor do implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) em comparação com a cirurgia. 

El reclamo de los cirujanos en estenosis aórtica de bajo riesgo

Os cirurgiões argumentam, no entanto, que esses casos não representam os pacientes da prática clínica diária, mas sim um grupo cuidadosamente escolhido para ser incluído nos estudos randomizados. 

Os pacientes com estenose aórtica não tricúspide, doença coronariana severa, os que precisam ser submetidos a reparação concomitante da valva mitral, tricúspide ou da aorta ascendente foram sistematicamente excluídos dos trabalhos. 

Este estudo incluiu todos os pacientes consecutivos com estenose aórtica severa e baixo risco cirúrgico (STS < 4%) que foram submetidos a cirurgia durante um período de vários anos (200-2019). Dos 5310 pacientes analisados, uma grande proporção (40,8%) apresentava ao menos uma doença que os teria excluído dos estudos randomizados. 

As doenças mais frequentes foram: estenose aórtica na valva não tricúspide (27,6%), doença coronariana severa (5,8%), doença mitra concomitante (5,8%) e doença da aorta ascendente (10,5%).


Leia também: As oclusões totais deveriam influir na estratégia de revascularização?


A mortalidade em 30 dias de toda a coorte de pacientes de baixo risco foi de 1,9% e a incidência de AVC foi de 2,4%. Essa mortalidade global foi similar à observada nos pacientes com doença coronariana severa (2,6%) e doença da aorta ascendente (2,1%). A mortalidade foi menor nos pacientes com anatomia não tricúspide (0,9%) e maior nos que apresentavam doença mitral concomitante (5,9%). 

Conclusão

No mundo real quase a metade dos pacientes com estenose aórtica severa e baixo risco cirúrgico apresentam alguma doença não contemplada nos estudos randomizados que avaliaram TAVI vs. cirurgia. 

Os resultados desta grande coorte de pacientes foram similares ou melhores aos indicados previamente nos escores de risco em todos os subgrupos de pacientes com a exceção daqueles com doença mitral concomitante. 

Estes resultados devem ser levados em consideração tanto na hora de escolher a estratégia nos pacientes da prática clínica diária como no desenho de futuros estudos. 

Título original: Aortic Valve Replacement in Low-Risk Patients With Severe Aortic Stenosis Outside Randomized Trials.

Referência: Alberto Alperi et al. J Am Coll Cardiol. 2021 Jan 19;77(2):111-123. doi: 10.1016/j.jacc.2020.10.056.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...

É realmente necessário monitorar todos os pacientes após o TAVI?

Os distúrbios de condução (DC) posteriores ao implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) constituem uma complicação frequente e podem incidir na necessidade de um...

Valvoplastia aórtica radial: vale a pena ser minimalista?

A valvoplastia aórtica com balão (BAV) foi historicamente empregada como estratégia de “ponte”, ferramenta de avaliação ou inclusive tratamento paliativo em pacientes com estenose...

Fibrilação atrial após oclusão percutânea do forame oval patente: estudo de coorte com monitoramento cardíaco implantável contínuo

A fibrilação atrial (FA) é uma complicação bem conhecida após a oclusão do forame oval patente (FOP), com incidência relatada de até 30% durante...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...