O tratamento borda a borda da valva mitral é atualmente uma alternativa válida como substituta da cirurgia na insuficiência mitral.
Vários estudos têm colocado a insuficiência mitral residual como parâmetro de sucesso, mas pouco se tem pesquisado sobre o gradiente residual ao finalizar o procedimento.
O que se publicou é que um gradiente médio ≥ 5 mmHg por hemodinâmica ou ≥ 4,4 mmHg por eco-Doppler transesofágico pode se relacionar com uma má evolução por gerar uma estenose mitral. Nos últimos trabalhos, no entanto, esta informação tem sido controversa (tanto nas insuficiências primárias quanto nas secundárias).
Foram analisados 710 pacientes consecutivos submetidos a tratamento percutâneo da valva mitral com a estratégia borda a borda. Dentre eles, 265 apresentavam insuficiência mitral degenerativa (IMD) e 445 insuficiência mitral secundária (IMS).
No grupo IMD, ao finalizar o procedimento, 167 pacientes apresentaram gradiente < 5 mmHg e 98 ≥ 5 mmHg; no grupo IMS, 347 evidenciaram um gradiente < 5 mmHg e 98 ≥ 5 mmHg.
O desfecho primário (DP) foi uma combinação de morte por qualquer causa e re-hospitalização por insuficiência cardíaca em 5 anos.
Independentemente da causa da insuficiência, os pacientes com um gradiente médio elevado apresentaram menor diâmetro ventricular.
Os pacientes com IMD tinham mais hipertensão e fibrilação atrial; ao contrário, no grupo IMS os sujeitos analisados eram mais jovens, compostos majoritariamente por homens, com escores de risco mais alto e maior presença de insuficiência renal. Este grupo evidenciou uma menor fração de ejeção no eco-Doppler.
Não houve diferença entre os dois grupos quanto a complicações durante o procedimento.
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Tampouco houve diferença em termos de DP no grupo IMD (6,3% vs. 74,4%; p = 0,06) e no grupo IMS (78,6% vs. 74,8%; p = 0,54). Depois de ajustar as variáveis, o gradiente elevado foi um preditor do DP em IMD (HR: 1,59; 95% CI: 1,03-2,45; p = 0,034), mas não em IMS (HR: 0,87; 95% CI: 0,63-1,22; p = 0,43).
Em 12 e 24 meses melhorou a classe funcional em todos os pacientes, independentemente de terem apresentado ou não gradiente elevado; também houve uma melhora na caminhada de 6 minutos (exceto nos IMD com gradiente elevado).
Conclusão
O gradiente médio elevado pós-procedimento é um preditor independente de eventos clínicos nos pacientes que têm insuficiência mitral degenerativa mas não naqueles com insuficiência mitral funcional.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Long-Term Outcomes of Patients With Elevated Mitral Valve Pressure Gradient After Mitral Valve Edge-to-Edge Repair.
Referência: Benedikt Koell, et al. J Am Coll Cardiol Intv 2022;15:922–934.
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