Balão eluidor de fármacos em SCACEST: não deixar rastros tem seus benefícios?

Uso de balões eluidores de fármacos em pacientes com síndrome coronariana aguda com elevação do ST. 


Não existe dúvida a respeito do benefício da reperfusão precoce na síndrome coronariana aguda com elevação do ST (SCACEST); quando comparada com a trombólise, a angioplastia primária (ATCp) demonstrou benefícios no que à mortalidade se refere. Apesar dos constantes avanços na tecnologia e no design dos stents, estes dispositivos não estão isentos de complicações, tais como a trombose do stent e a reestenose intrastent (RIS). 

Balón liberador de drogas en SCACEST

Pelo fato de fazerem eluição na zona afetada, s balões eluidores de fármacos poderiam evitar as complicações relacionadas com o implante permanente do stent. Tais estratégias têm sido úteis, tanto em termos de segurança quanto de eficácia, o que foi demonstrado em diversos cenários com RIS, doença de pequenos vasos ou nos pacientes com alto risco de sangramento. 

Merinopoulos et al realizaram um estudo com o objetivo de observar a eficácia do tratamento exclusivo com DCB em ATCp no SCACEST, comparado com DES de última geração. 

Foi um trabalho retrospectivo, unicêntrico, emparelhado por um escore de propensão. Foram incluídos pacientes com SCACEST e excluídos os pacientes com parada cardíaca, intubação ou choque cardiogênico. O desfecho primário (DP) foi a mortalidade por todas as causas e os desfechos secundários (DS) foram a mortalidade cardiovascular, SCA, AVC, sangramento maior e revascularização do vaso índice. O seguimento médio foi de 2,9 anos. 

Foram incluídos um total de 452 pacientes consecutivos tratados exclusivamente com DCB com paclitaxel (24 precisaram de bailout stenting e foram excluídos a análise). A idade média foi de 66 anos, 74% dos pacientes era de sexo masculino, 13% tinham diabetes, 4,7% tinham sido submetidos a uma intervenção coronariana prévia, o vaso responsável foi a coronária direita em 44% dos casos, seguido da descendente anterior (40%). 

Leia também: Benefícios do acesso radial distal.

A incidência de morte no ramo DCB foi de 10,8% e 9% no ramo DES (HR: 0,77; IC 95%: 0,53-1,12; P = 0,18), não houve diferenças significativas no tocante à probabilidade de mortalidade por todas as causas ao realizar o Kaplan-Meier Estimator Plot. Não houve diferenças significativas em nenhum dos DP analisados. A mortalidade em 30 dias foi de 2% vs. 1,5% (P = 0,49) e a revascularização não planejada foi de 1,2% vs. 0,7% do DES (P = 0,41).

Depois da análise por regressão os fatores preditores de mortalidade foram a idade, antecedente de insuficiência cardíaca e o antecedente familiar de cardiopatia isquêmica. Ao realizar a propensão, não se evidenciaram diferenças significativas em relação às duas estratégias. 

Conclusões

Ao analisar a segurança da estratégia exclusiva com DCB em SCACEST comparada com a ATCp com DES, não se evidenciaram diferenças significativas em termos de mortalidade por todas as causas, tanto na análise global como ao realizar o emparelhamento por escore de propensão. 

Embora o caráter retrospectivo não permita tirar conclusões, neste estudo se evidencia a factibilidade do uso dessa estratégia, que em um seguimento de 3 anos não gerou eventos adversos. A estratégia, no centro onde foi levado a cabo o estudo, mostrou bons resultados. 

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Assessment of Paclitaxel Drug-Coated Balloon Only Angioplasty in STEMI.

Referência: Merinopoulos, Ioannis et al. “Assessment of Paclitaxel Drug-Coated Balloon Only Angioplasty in STEMI.” JACC. Cardiovascular interventions vol. 16,7 (2023): 771-779. doi:10.1016/j.jcin.2023.01.380.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

AHA 2025 | DECAF: consumo de café vs. abstinência em pacientes com FA — recorrência ou mito?

A relação entre o consumo de café e as arritmias tem sido objeto de recomendações contraditórias. Existe uma crença estendida de que a cafeína...

AHA 2025 | Estudo OCEAN: anticoagulação vs. antiagregação após ablação bem-sucedida de fibrilação atrial

Após uma ablação bem-sucedida de fibrilação atrial (FA), a necessidade de manter a anticoagulação (ACO) a longo prazo continua sendo incerta, especialmente considerando que...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...