O mismatch prótetico (PPM) ocorre quando a área do orifício efetivo (EOA) após a colocação de uma válvula é significativamente menor do que a da superfície corporal do paciente (SC), o que resulta em um aumento do gradiente residual transprotético. A presença de PPM, especialmente em diversas séries cirúrgicas, está associado a eventos clínicos adversos a longo prazo.
Com relação ao implante percutâneo da valva aórtica (TAVI), a detecção de PPM variou em termos de seu diagnóstico entre os primeiros estudos (que se baseavam unicamente em medições mediante ecocardiograma) e os estudos mais recentes. Isso sugere que a forma mais precisa de medi-lo é por meio de uma medição que se baseie na EOA, segundo as especificações do fabricante no que se refere à superfície corporal do paciente e ao diâmetro do anel, medido por tomografia computadorizada (TC).
Apesar de a presença, frequência e seguimento do PPM em TAVI serem escassos, o objetivo deste estudo foi avaliar sistematicamente os eventos clínicos a longo prazo em uma coorte prospectiva que incluiu diferentes tipos de válvulas e gerações e que avaliou o PPM utilizando vários métodos.
Foi usado o registro de TAVI de Berna, Suíça. O mesmo incluiu pacientes consecutivos com estenose aórtica severa sintomática. O registro incluiu pacientes com válvulas expansíveis por balão (SAPIEN XT, SAPIEN 3, SAPIEN 3 Ultra) ou autoexpansíveis (CoreValve, Evolut R/PRO/Pro Plus), entre agosto de 2007 e junho de 2022.
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O PPM foi classificado em função da EOA indexada segundo a superfície corporal em três categorias: trivial (> 0,85 cm2/m2), moderado (EOAi > 0,65 e ≤ 0,85 cm2/m2) ou severo (EOAi ≤ 0,65 cm2/m2), com limiares de corte diferentes na população obesa.
Compilaram-se dados de 2463 pacientes, que incluíram medições de PPM mediante ecocardiografia (EOAi) e PPM esperada (definida pelo fabricante [EOATHV] ou mediante TC [EOATC]). 46,9% dos pacientes eram mulheres, com uma idade média de 82 ± 6 anos. O STS médio foi de 5 ± 3,9%, e 22,8% dos pacientes eram obesos. A abordagem transfemoral foi a predominante, utilizada em 93,6% dos casos.
A frequência de PPM moderado e severo variou segundo os diferentes métodos de medição. Com a utilização de EOAi, observou-se que 27% dos pacientes apresentavam PPM moderado e 8,7% PPM severo. Por outro lado, com a utilização de EOATHV, as porcentagens foram de 11,3% e 1,2%, respectivamente. Finalmente, utilizando-se EOATC, os números foram de 12% e 0,1%, respectivamente. Além disso, a severidade foi menor na população obesa em comparação com a população não obesa.
No tocante ao tipo de válvula, as expansíveis por balão apresentaram uma maior frequência de PPM moderado a severo, ao passo que a EOATHV indicou severidade somente nas válvulas autoexpansíveis.
Os pacientes com PPM moderado a severo, sem importar o método de medição utilizado, apresentaram gradientes médios mais altos e uma maior prevalência de gradientes residuais elevados (p < 0,001). Não foram observadas diferenças significativas no índice de regurgitação paravalvar.
O tempo de seguimento médio foi de 429 dias. A mortalidade por todas as causas em um ano foi de 10,5%, de 52,8% em 5 anos e de 84,3% em 10 anos no grupo com PPM trivial. No grupo com PPM moderado, a mortalidade foi de 12,2% em um ano, de 58,3% em 5 anos e de 89,7 em 10 anos. A mortalidade cardiovascular em 10 anos foi maior em pacientes com EOAi, embora tenham sido observadas taxas similares de deterioração valvar e reintervenção em todos os grupos avaliados. Ao analisar a sobrevivência, não foi observado um aumento significativo do risco de mortalidade associado ao PPM, independentemente do método de medição utilizado.
Conclusões
Os resultados sugerem que a EAO esperada proporciona uma avaliação menos severa do PPM do que mediante ecocardiografia convencional em pacientes submetidos a TAVI. No entanto, dita diferença não parece ter um impacto significativo na mortalidade em 10 anos, embora seja importante levar em consideração que o seguimento médio de 429 dias limita a capacidade de tirar conclusões definitivas.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Referência: Tomii, Daijiro et al. “Long-term outcomes of measured and predicted prosthesis-patient mismatch following transcatheter aortic valve replacement.” EuroIntervention : journal of EuroPCR in collaboration with the Working Group on Interventional Cardiology of the European Society of Cardiology, EIJ-D-23-00456. 25 Aug. 2023, doi:10.4244/EIJ-D-23-00456.
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