Deveríamos adotar o uso rotineiro do ultrassom para guiar o acesso femoral?

O acesso transfemoral é usado, atualmente, em procedimentos de maior calibre e em caso de falha do acesso radial. A introdução do ultrassom (US) para orientar o acesso surgiu como uma técnica que permite canalizar de maneira precisa, evitando acessos acima ou abaixo do ligamento inguinal. A evidência a respeito do uso dessa ferramenta mostrou, no entanto, resultados variáveis. Duas enquetes respondidas por cardiologistas intervencionistas revelaram que a utilização do US se restringe a 13-27% dos casos, embora 88% dos entrevistados tenha indicado que dita tecnologia estava disponível no laboratório de cateterismo. 

¿Deberíamos adoptar el uso rutinario del ultrasonido para guiar el acceso femoral?

O objetivo desta metanálise foi comparar o uso do US vs. sua ausência para guiar o procedimento por acesso transfemoral. 

O desfecho primário (DP) consistiu em uma combinação de complicações vasculares maiores (incluindo pseudoaneurismas, fístulas arteriovenosas, sangramento retroperitoneal, hematomas com um diâmetro > 5 cm, isquemia do membro com necessidade de intervenção ou cirurgia) ou sangramento maior segundo a classificação de BARC 3 ou 5. O desfecho secundário (DS) foi uma combinação de complicações vasculares maiores, sangramento maior ou menor e complicações vasculares maiores exclusivamente. 

Na análise foram incluídos 2441 pacientes, dentre os quais 1208 foram aleatoriamente designados ao grupo de acesso guiado por US e 1233 ao grupo sem acesso de US. A idade média foi de 65,5 anos, estando a maior parte da população composta por homens. 12% dos pacientes apresentavam doença vascular periférica e 34% foram submetidos a angioplastia transluminal coronariana. Em aproximadamente 80% dos casos utilizou-se um cateter de 6 Fr e na metade dos casos foi feita uma oclusão com dispositivo percutâneo.

Leia Também: Resultados a curto prazo do TAVI em pacientes assintomáticos ou minimamente sintomáticos.

No tocante aos resultados, a incidência de complicações vasculares maiores ou sangramento maior foi menor no grupo guiado por US (2,8% vs. 4,45%. OR 0,61, IC de 95%: 0,39-0,94; p = 0,026). No subgrupo de pacientes que foram tratados com dispositivos de oclusão, aqueles que foram designados aleatoriamente a uso de US experimentaram uma redução do sangramento maior ou complicações vasculares maiores (2,1% vs. 5,6%, OR 0,36 IC de 95%: 0,19-0,69). Por outro lado, não foram observados benefícios no subgrupo sem dispositivos de oclusão (4,1% vs. 3,3%; OR 1,21, CI de 95%: 0,65-2,26).

Conclusão

Esta metanálise demonstrou que a utilização de US para guiar o tratamento percutâneo por acesso transfemoral se associa a um menor risco de sangramento maior ou complicações vasculares maiores em procedimentos coronarianos. Além disso, o uso do US para guiar o procedimento pode trazer mais benefícios por prevenir complicações vasculares em pacientes que são tratados com dispositivos de oclusão. Deveria ser considerada a incorporação rotineira do ultrassom para as abordagens por acesso femoral. 

Dr. Andrés Rodríguez.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Ultrasound guidance for transfemoral access in coronary procedures: an individual participant-level data meta-analysis from the femoral ultrasound trialist collaboration.

Referência: Marc-André d’Entremont, MD, MPH et al EuroIntervention 2023;19-online publish-ahead-of-print October 2023.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

Jejum vs. não jejum antes de procedimentos cardiovasculares percutâneos

Embora em 2017 as diretrizes da Sociedade Americana de Anestesiologistas tenham sido atualizadas para permitir a ingestão de líquidos claros até duas horas e...

Dissecção espontânea do tronco da coronária esquerda: características clínicas, manejo e resultados

Gentileza do Dr. Juan Manuel Pérez. A dissecção espontânea do tronco da coronária esquerda (TCE) é uma causa infrequente de infarto agudo do miocárdio (IAM),...

Pré-tratamento com DAPT em síndromes coronarianas agudas: continua sendo um debate não resolvido?

Na síndrome coronariana aguda (SCA), a terapia antiplaquetária dual (DAPT) representa um pilar fundamental após a intervenção mediante angioplastia coronariana percutânea (PCI), ao prevenir...

Outro revés para o balão de contrapulsação? Um estudo randomizado sobre seu uso em insuficiência cardíaca crônica que progride para choque cardiogênico

O choque cardiogênico (CC) continua sendo uma entidade de altíssima mortalidade (aproximadamente 50%). Embora a maioria das terapias em dito contexto tenham sido estudadas...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Jejum vs. não jejum antes de procedimentos cardiovasculares percutâneos

Embora em 2017 as diretrizes da Sociedade Americana de Anestesiologistas tenham sido atualizadas para permitir a ingestão de líquidos claros até duas horas e...

Dissecção espontânea do tronco da coronária esquerda: características clínicas, manejo e resultados

Gentileza do Dr. Juan Manuel Pérez. A dissecção espontânea do tronco da coronária esquerda (TCE) é uma causa infrequente de infarto agudo do miocárdio (IAM),...

Pré-tratamento com DAPT em síndromes coronarianas agudas: continua sendo um debate não resolvido?

Na síndrome coronariana aguda (SCA), a terapia antiplaquetária dual (DAPT) representa um pilar fundamental após a intervenção mediante angioplastia coronariana percutânea (PCI), ao prevenir...