Tromboaspiração durante angioplastia primária: não melhora os resultados clínicos

Tromboaspiração durante angioplastia primáriaA tromboaspiração durante a angioplastia primária de um infarto com supradesnivelamento do segmento ST foi exaustivamente utilizada. Trabalhos recentes, no entanto, têm questionado tanto a utilidade quanto a segurança dessa prática.

 

Esta metanálise teve o objetivo de analisar a informação dos pacientes de maneira individual para determinar o benefício e a segurança da tromboaspiração durante uma angioplastia primária.

 

Foram incluídos todos os estudos randomizados e controlados que avaliaram a tromb0aspiração manual vs. a angioplastia primária convencional e que tenham incluído mais de 1.000 pacientes cursando um infarto agudo com supradesnivelamento do segmento ST. A informação individual de cada paciente foi proporcionada pelos pesquisadores principais de cada trabalho.

 

O desfecho primário de eficácia foi a mortalidade cardiovascular em 30 dias e o desfecho primário de segurança foi qualquer AVC ou acidente isquêmico transitório também em 30 dias.

 

Os 3 estudos elegíveis (TAPAS, TASTE e TOTAL) incluíram 18.306 pacientes que foram submetidos a angioplastia primária e dos quais havia disponibilidade dos dados para a análise.

 

A morte cardiovascular em 30 dias ocorreu em 221 pacientes (2,4%) dos 9.155 randomizados a tromboaspiração e em 262 (2,9%) dos randomizados somente a angioplastia primária (HR: 0,84; IC 95%; p = 0,06).

 

O AVC e o acidente isquêmico transitório ocorreram em 66 pacientes (0,8%) dos randomizados a tromboaspiração contra 46 (0,5%) do grupo que recebeu somente angioplastia primária (OR: 1,43 IC 0,98-2,1; p = 0,06).

 

Não houve diferenças significativas na taxa de infarto do miocárdio recorrente, trombose do stent, insuficiência cardíaca ou revascularização da lesão alvo.

 

Ao analisar separadamente o subgrupo com alta carga trombótica, observou-se que a tromboaspiração se associa a uma menor mortalidade cardiovascular (2,5% vs. 3,1%, HR 0,80; p = 0,03) mas, simultaneamente, a uma maior taxa de AVC ou acidente isquêmico transitório (0,9% vs. 0,5%, p = 0,04). Apesar dos números anteriores, o valor de p para a interação foi de 0,32 e 0,34, respectivamente.

 

Conclusão

A tromboaspiração de rotina durante a angioplastia primária não melhora os resultados clínicos. No subgrupo de pacientes com alta carga trombótica observou-se uma tendência a menor mortalidade e a maior taxa de AVC, o que proporciona a racionalidade para futuros trabalhos.

 

Comentário editorial

Nas recomendações da AHA/ACA do ano 2015, a evidência para a utilização de tromboaspiração no contexto de uma PCI primária é IIb/C para casos nos quais há presença intraluminal de trombos e classe III para uma utilização rotineira em todos os casos.

 

A bibliografia existente na atualidade não sustenta o uso rotineiro de tromboaspiração para o manejo do infarto agudo do miocárdio com elevação do segmento ST. Podem existir casos individuais em que o operador considere que o benefício da técnica é potencialmente maior que seus riscos.

 

Título original: Thrombus Aspiration in ST Elevation Myocardial Infarction: An Individual Patient Meta-analysis.

Referência: Sanjit S. Jolly et al. Circulation 2016 Dec 9. [Epub ahead of print].


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Tratamento antiplaquetário dual em pacientes diabéticos com IAM: estratégia de desescalada

A diabetes mellitus (DM) é uma comorbidade frequente em pacientes hospitalizados por síndrome coronariana aguda (SCA), cuja prevalência aumentou na última década e se...

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Perfurações coronarianas e o uso de stents recobertos: uma estratégia segura e eficaz a longo prazo?

As perfurações coronarianas continuam sendo uma das complicações mais graves do intervencionismo coronariano (PCI), especialmente nos casos de rupturas tipo Ellis III. Diante dessas...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Tratamento antiplaquetário dual em pacientes diabéticos com IAM: estratégia de desescalada

A diabetes mellitus (DM) é uma comorbidade frequente em pacientes hospitalizados por síndrome coronariana aguda (SCA), cuja prevalência aumentou na última década e se...

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...