Novas diretrizes europeias em relação aos lipídios: que novidades elas trazem?

As diretrizes da prática clínica, excetuando-se os casos de uma consulta específica, costumam ser algo tediosas. Elas não estão pensadas para serem lidas como um livro de texto, ou ao menos esta é a opinião da maioria dos leitores. 

Nuevas Guías Europeas de Dislipemia

Ultimamente, porém, esta sensação dos leitores tem sido percebida e aparece uma maravilhosa “tabela 3” nas novas diretrizes europeias de dislipidemia, nas quais são enumeradas novas recomendações, as recomendações que foram modificadas com relação às de 2016, as novas seções e os novos ou recentemente revisados conceitos. Um resumo perfeito para refrescar e atualizar tudo o que já sabíamos. 

Foram acrescentadas como recomendações:

  • Revisar o volume de placas em artérias (carótida ou femoral) mediante ecografia para eventualmente modificar o risco de um paciente em particular, especialmente os de risco baixo ou moderado.
  •  O escore de cálcio por tomografia também pode ser considerado para reavaliar o risco “convencional” em indivíduos assintomáticos de risco baixo ou moderado. 

  • Medir, mesmo que seja uma vez na vida, o valor da Lp (a) para detectar pacientes com hipercolesterolemia familiar heterozigótica (valores acima de 180 mg/dl ou > 430 nmol/L). 

  • Em pacientes de alto risco com triglicerídeos entre 135 e 499 mg/dl, considerar o tratamento com ômega 3 além das estatinas. Com um valor ainda maior o que se trata é o risco de pancreatite. 

  • Em pacientes com hipercolesterolemia familiar heterozigótica que se encontrem em prevenção primária, considerar uma redução de mais de 50% do valor basal de LDL ou um valor absoluto < 55 mg/dl. 

  • O tratamento com estatinas está recomendado em prevenção primária de acordo com o nível de risco em pacientes idosos de menos de 75 anos. 

  • O tratamento com estatinas em prevenção primária em pacientes com menos de 75 anos poderia ser considerado, especialmente em alto risco basal. 

  • Em pacientes diabéticos tipo 2 e risco muito alto recomenda-se uma redução ≥ a 50% do basal ou um valor absoluto < a 55 mg/dl de LDL. Caso o risco não seja tão extremo recomenda-se um valor < 70 mg/dl. Quando o objetivo não for alcançado deve-se considerar a combinação de estatinas com ezetimibe.
  • As estatinas NÃO estão recomendadas em pacientes diabéticas pré-menopáusicas que estejam cogitando engravidar ou não utilizem anticoncepção adequada. 

  • Para aqueles pacientes que forem admitidos cursando uma síndrome coronariana aguada e cujos níveis de LDL não alcançarem a meta apesar de estarem em tratamento com a dose máxima tolerada de estatinas deve-se considerar o acréscimo de um inibidor do receptor PCSK9 (se for possível na mesma internação do evento).


Leia também: AHA 2018 | Os novos guias de dislipidemia respaldam a terapia sem estatinas e a busca de cálcio coronariano.


Os conceitos revisados das velhas diretrizes foram: 

  • Tornou-se mais intensiva a redução do LDL em prevenção secundária. Para os pacientes que já apresentaram um evento e têm um risco alto recomenda-se um valor < 55 mg/dl. Para aqueles que sofreram um segundo evento vascular dentro dos 2 anos do primeiro (em qualquer território) e já estavam tomando a dose máxima tolerada de estatinas recomenda-se considerar um objetivo < mg/dl de LDL.  

  • Os objetivos também foram intensificados em prevenção primária. Aqueles pacientes que nunca apresentaram um evento, mas que têm um risco muito alto recomenda-se uma redução superior a 50% do valor basal ou um LDL < 55 mg/dl. Para os pacientes de alto risco recomenda-se uma redução superior a 50% do valor basal ou um valor absoluto inferior a 70 mg/dl. Se o risco de eventos for moderado em prevenção primária, um valor inferior a 100 mg/dl de LDL parece ser suficiente. Para os pacientes de baixo risco o corte é inferior a 116 mg/dl. 


Leia também: Consumo de álcool e fibrilação atrial: mais razões para a moderação.


Outro dos pontos nos quais se fez ênfase foi na diferenciação da miopatia causada por estatinas dos chamados sintomas musculares associados às estatinas. 

2020-01-30-ehz455

Título original: 2019 ESC/EAS Guidelines for the management of dyslipidemias: lipid modification to reduce cardiovascular risk. The Task Force for the management of dyslipidemias of the European Society of Cardiology (ESC) and European Atherosclerosis Society (EAS).

Referência: European Heart Journal (2020) 41, 111-188.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Anticoagulação e TAVI, o que devemos fazer?

O implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) se consolidou como uma estratégia válida em certos grupos de pacientes. No entanto, aproximadamente um terço dos...

Anticoagulantes orais de ação direta para trombo ventricular pós-SCACEST

Embora a incidência de trombos intracavitários após um infarto agudo do miocárdio (IAM) tenha se reduzido graças à otimização dos tempos na angioplastia primária,...

AHA 2024 | Estudo VANISH2

O implante de cardiodesfibriladores implantáveis (CDI) demonstrou melhorar a sobrevivência em pacientes com miocardiopatia isquêmica e taquicardia ventricular (TV). Entretanto, aproximadamente um terço dos...

AHA 2024 | SUMMIT

Foi previamente demonstrado que o tratamento farmacológico para a obesidade (semaglutida) pode reduzir eventos cardiovasculares em pacientes com insuficiência cardíaca (IC) com fração de...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Angiografia coronariana não planejada após o TAVI: incidência, preditores e resultados

A importância de avaliar a doença coronariana em pacientes submetidos a implante percutâneo da valva aórtica (TAVR) é bem conhecida devido à sua alta...

Jornadas Uruguai 2025 | Concurso de Jovens Cardiologistas Intervencionistas

Chamado À Apresentação de Casos LI Jornadas Regionais da SOLACI – 16° Região Cone Sul. Temos o prazer de convidar os jovens cardiologistas latino-americanos para apresentar...

Preditores de sucesso no uso de litotripsia intravascular em lesões coronarianas calcificadas

A calcificação coronariana (CAC) é um achado cada vez mais frequente em pacientes submetidos a angioplastia coronariana (PCI). A litotripsia intravascular (IVL) se consolidou...