Exposição prolongada à poluição ambiental incrementa risco de doença cardiovascular

Em plena pandemia pela COVID-19 é difícil pensar em outra coisa que possa estar afetando a saúde do mundo e, em tal contexto, a população da China. A poluição (especialmente as de partículas pequenas PM 2,5) ficou em um segundo plano nos dias atuais, mas, por outro lado, o fechamento preventivo, devido à pandemia pelo coronavírus, de muitas indústrias na China colocou em evidência o quanto a desativação das chaminés melhora a qualidade do ar. 

contaminacion ambiental y riesgo cardiovascular

O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito cardiovascular a longo prazo da exposição a partículas pequenas (PM 2,5) na China. 

Foi estudada uma coorte de 116 972 adultos do estudo China-PAR (Prediction for Atherosclerotic Cardiovascular Disease Risk in China) que não apresentavam doença cardiovascular no ano 2000, quando foram incluídos. Os participantes foram seguidos até 2015. Para conhecer a exposição foram utilizadas as medições satelitais 1 km ao redor de cada pessoa.  O risco da exposição a PM 2,5 foi ajustado com outros fatores de risco individuais. 

As concentrações anuais de PM 2,5 para as cidades chinesas estudadas oscilaram entre 25,5 e 114 ug/m3 (as principais capitas da América Latina apresentam uma média de entre 40 a 50 ug/m3).

Por cada aumento em 10 ug/m3 de PM 2,5 foram observadas 1164 mortes adicionais. Tal como se esperava, foi observada uma curva dose-resposta de cada vez maior impacto à medida que subiam as concentrações. 


Leia também: Diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia para o manejo da COVID-19.


Os pacientes idosos, residentes em rurais e nunca fumantes foram mais propensos a apresentar eventos cardiovasculares associados à exposição à poluição com partículas pequenas. 

Conclusão

Este trabalho oferece evidência categórica de que a exposição prolongada à contaminação de partículas pequenas (PM 2,5) incrementa o risco de doença cardiovascular. Quanto maior a exposição, maior o risco. Estes achados expandem o conhecimento que já tínhamos sobre a importância da qualidade do ar sobre a saúde e a possibilidade que ainda temos de melhorá-la. 

Título original: Long-Term Exposure to Fine Particulate Matter and Cardiovascular Disease in China.

Referência: Fengchao Liang et al. J Am Coll Cardiol 2020;75:707–17.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

Impacto da Pressão Arterial Sistólica Basal nas Alterações Pressóricas após a Denervação Renal

A denervação renal (RDN) é uma terapia recomendada pelas diretrizes para reduzir a pressão arterial em pacientes com hipertensão não controlada, embora ainda existam...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...