A insuficiência mitral severa se associa a falhas cardíacas e internações e, com o passar do tempo, com insuficiência renal, o que leva a uma maior mortalidade.
No estudo COAPT, nos pacientes com baixa fração de ejeção, o MitraClip demonstrou seu benefício em comparação com o tratamento médico, mas havia um grupo importante com deterioração da função renal.
A evolução e o benefício do dispositivo nesse grupo não tinha sido analisada e atualmente dispomos de pouca evidência sobre o tema.
Foi feita uma análise do estudo COAPT na qual foram estabelecidos três grupos de acordo com a filtração glomerular: sem deterioração renal (FRN), quando a filtração era ≥ 60 mL/min/1,73m2; com deterioração moderada (DM), quando era entre 30–60 mL/min/1,73m2; e com deterioração severa (DS) quando era de 30 mL/min/ 1,73 m2.
Houve, ademais, 37 pacientes (6,1%) que estavam em diálise. Dentre eles, 13 receberam implante de MitraClip e 24 receberam tratamento médico completo a máxima dose tolerada.
Analisaram-se 606 pacientes, dentre os quais 144 apresentaram DS (23,8%), 323 DM (53,3%) e 139 FRN (22,9%).
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Os pacientes com DM ou DS tinham idade mais avançada, mais comorbidades (diabetes, doença renal coronariana, miocardiopatia isquêmica, anemia) maior elevação do NP-proBNP e também um risco mais elevado para cirurgia.
Após dois anos de seguimento a deterioração da função renal basal se associou a maior mortalidade ou re-hospitalização por insuficiência cardíaca (p < 0,0001). Além disso, tanto a mortalidade como a re-hospitalização foram maiores quando a análise foi feita por separado. Os pacientes que se encontravam em diálise apresentaram uma taxa de morte e hospitalização por insuficiência cardíaca de 68,7%, morte de 61,5% e de hospitalização por insuficiência cardíaca de 33,4%.
O MitraClip gerou uma redução do tratamento médico completo a dose máxima tolerada da deterioração da função renal (P Interacation = 0,62), redução de surgimento de deterioração severa da função renal [2,9 vs. 8,1%, hazard ratio (HR) 0,34, 95% confidence interval (CI) 0,15–0,76; p = 0,008] e da necessidade de diálise (2,5 vs. 7,4%, HR 0,33, 95% CI 0,14–0,78; p = 0,011).
Conclusão
A presença de deterioração da função renal em pacientes com insuficiência cardíaca e com insuficiência mitral incluídos no Estudo COAPT é um forte preditor, em 2 anos de seguimento, de morte e internações por insuficiência cardíaca. O tratamento com MitraClip reduz o começo da deterioração da função renal e a necessidade de diálise, contribuindo para melhorar o prognóstico após o tratamento de reparação percutânea da valva mitral.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Impact of baseline renal dysfunction on cardiac outcomes and end-stage renal disease in heart failure patients with mitral regurgitation: the COAPT trial.
Referência: Nirat Beohar, et al. European Heart Journal (2022) 43, 1639–1648.
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