Os dispositivos de oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo (LAAC) surgiram como uma boa alternativa para a prevenção de eventos embólicos sistêmicos naqueles pacientes que apresentam fibrilação atrial (FA) não valvar e alto risco de sangramento ou que têm uma contraindicação para a anticoagulação.
De acordo com os resultados exibidos no estudo PRAGUE-17, em quatro anos, o LAAC foi não inferior aos anticoagulantes diretos na prevenção de eventos cardiovasculares, neurológicos e sangramentos.
Os dispositivos de LAAC apresentam algumas contraindicações, como a presença de trombos no apêndice atrial esquerdo antes do procedimento. Em tais casos, a opção mais utilizada é uma anticoagulação (AC) parenteral curta para a resolução do trombo e o posterior implante do dispositivo.
Em algumas situações, no entanto, os anticoagulantes usados podem precipitar eventos de sangramento. Por isso, alguns estudos relataram a factibilidade da colocação do dispositivo de LAAC apesar da presença de trombo. Tais casos foram denominados “LAAC com captura de trombo” (TTP-LAAC).
Para avaliar sua segurança, foi constituído o registro TRAPEUR (Thrombus Traping Eureopean Registry). Este registro retrospectivo e multicêntrico de 13 centros europeus com alto volume de implante de LAAC incluiu pacientes com indicação de dispositivo (Amulet ou Watchman FLX) com presença de trombo verificada antes da intervenção ou durante a mesma (TTP-LAAC ad-hoc). O estadiamento do trombo era feito de acordo com a localização (proximal ou distal) e com seu tamanho (> ou < 50% da superfície do apêndice). Para minimizar o risco de embolias realizou-se a colocação segundo a técnica “no touch techhnique” de Jalal Z et al.
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O desfecho primário (DP) foi uma combinação de mortalidade cardiovascular, AVC ou acidente isquêmico transitório, ou embolização periférica em 30 dias. Os desfechos secundários consistiam em embolização do dispositivo, tamponamento cardíaco ou sangramento maior ou menor.
Sobre um total de 1918 pacientes que foram submetidos à colocação do dispositivo de LAAC, 4% apresentaram trombo antes do implante (77 pacientes). Em 24 pacientes foi observada resolução do trombo com otimização da anticoagulação, sendo possível analisar os resultados de 53 pacientes. Observou-se um escasso número de pacientes com trombo proximal (n = 3) e de um tamanho > 50% (n = 9).
No seguimento de 30 dias observou-se uma incidência de DP de 2% (IC 95% 0-5,8%) e no que se refere a eventos de sangramento, observou-se 10% de sangramento menor e 4% de sangramento maior.
Conclusões
A realização de TTP-LAAC foi factível, com escasso número de eventos adversos (2% de eventos cardiovasculares e 4% de sangramento) e, por sua vez, evidenciou que uma estratégia de anticoagulação curta também é segura para diminuir a carga trombótica observada antes do procedimento. Desconte-se aqui as limitações próprias de um registro, bem como o escasso número de pacientes com trombo no momento de realizar o implante. Contudo, a segurança demostrada incentiva-nos sobre a possibilidade de somar um cenário mais de uso para os dispositivos de LAAC.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Titulo Original: Left atrial appendage closure for thrombus trapping: the international, multicentre TRAPEUR registry.
Fonte: Sebag, Frederic A et al. “Left atrial appendage closure for thrombus trapping: the international, multicentre TRAPEUR registry.” EuroIntervention : journal of EuroPCR in collaboration with the Working Group on Interventional Cardiology of the European Society of Cardiology vol. 18,1 (2022): 50-57. doi:10.4244/EIJ-D-21-00713.
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