A estenose aórtica em valvas bicúspides não foi incluída nos grandes estudos randomizados e na atualidade em dito cenário o TAVI foi avaliado somente em trabalhos menores. De qualquer forma a informação disponível é muito animadora.
De forma geral, as mulheres apresentam no TAVI algumas complicações mais frequentemente que os homens, mas isso não foi bem analisado nas valvas bicúspides com estenose severa dos pacientes que são submetidos a TAVI.
Foram incluídos 510 pacientes de um só centro. Dentre eles, 225 mulheres (44,1%) e 285 homens.
A válvula utilizada com maior frequência foi a Venus-A Valve (Venus Medtech).
A idade média foi de 72 anos; os homens apresentaram mais comorbidades, como insuficiência renal, DPOC, doença coronariana e ATC prévias, além de uma fração de ejeção do ventrículo esquerdo menor e mais insuficiência aórtica associada à estenose.
Por sua vez, as mulheres apresentaram uma velocidade aórtica maior e menor dilatação da aorta ascendente.
O STS foi similar: 5,6 ± 3,8% para as mulheres e 4,9 ± 4,2 para os homens (p = 0,066).
Na tomografia observou-se que o Tipo 0 foi mais frequente nas mulheres e o Tipo I nos homens. Estes últimos apresentaram maior calcificação, com anéis aórticos, áreas valvares e raiz aórtica também maiores.
Durante o procedimento a necessidade de uma segunda válvula foi maior nos homens. No entanto, houve mais complicações vasculares nas mulheres.
No âmbito hospitalar não houve diferenças em termos de mortalidade ou AVC nem na necessidade de marca-passo (mulheres 17,1% vs. 22,5%; p = 0,1).
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Em 30 dias e em 1 ano não houve diferenças em termos de mortalidade.
Os eco-Doppler foram analisados em 30 dias e em 1 ano. As mulheres apresentaram um gradiente mais alto mas menor taxa de regurgitação paravalvar maior a leve, sem alcançar a significância estatística. Ambos os grupos melhoraram a fração de ejeção e apresentaram uma diminuição da massa ventricular.
Na análise multivariada o sangramento foi preditor de mortalidade nas mulheres ao passo que nos homens a creatinina e o diâmetro da raiz aórtica > 45 mm exerceram esse papel.
Conclusão
Nos pacientes com valvas aórticas bicúspides que são submetidos a TAVI, as mulheres apresentam menos comorbidades, ao passo que os homens apresentam maior proporção de valva aórtica bicúspide tipo I, mais calcificação e raiz aórtica maior. No âmbito hospitalar os homens apresentam uma melhor evolução com menos complicações mas com maior necessidade de uma segunda válvula. A sobrevida em um ano é similar entre os dois sexos.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Sex Difference in Outcomes Following Transcatheter Aortic Valve Replacement in Bicuspid Aortic Stenosis.
Referência: Jing-Jing He, et al. J Am Coll Cardiol Intv 2022;15:1652–1660.
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