Tromboaspiração na Síndrome Coronariana Aguda: será a perspectiva japonesa uma estratégia a imitar?

A tromboaspiração (TA) em pacientes com alta carga trombótica poderia, em termos fisiopoatológicos, chegar a diminuir a carga do trombo e a embolização distal, reduzir o fenômeno de no reflow e melhorar a perfusão microvascular. No entanto, sua utilidade não foi evidenciada nos grandes estudos randomizados (TASTE e TOTAL) que compararam o uso rotineiro da TA na angioplastia primária dos pacientes com a síndrome coronariana com elevação do ST (SCACEST).

tromboaspiracion angioplastia primaria

Os guias europeus e americanos contraindicam seu uso rotineiro na SCA (Classe III), indicação que difere dos guias japoneses, nos quais a TA seletiva ou como bailout tem um nível de recomendação IIB. 

Em função disso, foram apresentados os dados do registro japonês de angioplastias (PCI), com o objetivo de avaliar as tendências do uso de TA no tratamento da SCA e a associação entre seu uso e desfechos clínicos intra-hospitalares. 

O registro incluiu 282.606 pacientes com SCA que tinham sido submetidos a PCI, dentre os quais 83.422 tinham sido também submetidos a TA (29,5%) em distintos cenários clínicos (52,9% SCACEST, 23,5% SCASEST, 5.2% angina instável). A tendência de uso de TA foi diminuindo levemente, entre 54,3% dos SCACEST a 50,9% em 2018. 

Comparando as características basais, os pacientes tratados com TA eram mais jovens, predominantemente de sexo masculino e maior proporção de tabagismo, sendo a coronária direita a artéria responsável na maioria dos casos.

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O tratamento com TA redundou em melhoras no que se refere ao sucesso da PCI com relação aos casos sem TA (98,7% vs. 97.8%; p < 0.001). Os pacientes com SCACEST que foram submetidos a TA evidenciaram uma menor incidência de morte (2,5% vs. 3%; p < 0,001). Ao analisar as complicações relacionadas com o procedimento (global) não foram observadas diferenças significativas entre os dois cenários. Contudo, ao estudar os distintos eventos constatou-se um maior índice de trombose do stent e necessidade de inotrópicos ao usar TA. 

Foi feita uma análise da TA de acordo com o tempo porta-balão, observando-se maior índice de complicações nos tempos mais longos, como de 75 a 90 min e de 90 a 120 min. 

Conclusões

No Japão a tromboaspiração continua sendo um elemento habitual para o tratamento da síndrome coronariana aguda, considerando que eles não contam com disponibilidade comercial de inibidores IIB/IIIB. Neste trabalho retrospectivo, observou-se que os pacientes tratados com TA tiveram melhora do sucesso na angioplastia, com uma diminuição não significativa da mortalidade nos pacientes com SCACEST. 

A diferença na recomendação dos guias se deve, principalmente, ao fato de o Japão basear suas recomendações sobretudo nos resultados do estudo VAMPIRE, que evidenciou em SCACEST com tratamento com TA uma diminuição do slow ou no reflow

Este estudo com muitos pacientes se estabelece como uma hipótese para continuarmos buscando o cenário ideal no qual a TA possa ser útil sem apresentar seus efeitos já adversos conhecidos. 

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Use of Thrombus Aspiration for Patients With Acute Coronary Syndrome: Insights From the Nationwide J-PCI Registry.

Fonte: Inohara, Taku et al. “Use of Thrombus Aspiration for Patients With Acute Coronary Syndrome: Insights From the Nationwide J-PCI Registry.” Journal of the American Heart Association vol. 11,16 (2022): e025728. doi:10.1161/JAHA.122.025728.


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