A insuficiência cardíaca se associa em grande medida à desnutrição ou à má nutrição, fatores relacionados com um aumento da mortalidade durante o acompanhamento.
Sabemos que a insuficiência mitral é uma doença que provoca insuficiência cardíaca progressiva e afeta a nutrição.
O estudo COAPT demonstrou os benefícios do tratamento borda a borda na insuficiência mitral quando combinado com um tratamento médico completo e com a administração das máximas doses toleradas. Contudo, é necessário determinar a importância do estado nutricional e sua evolução nesse contexto.
Foi levada a cabo uma subanálise do estudo COAPT para avaliar o estado nutricional segundo o índice de risco nutricional geriátrico (GNRI, por suas siglas em inglês), considerando a presença de desnutrição quando o valor era igual ou inferior a 98.
Foram incluídos no estudo 552 pacientes que tinham todos os dados necessários para o cálculo do GNRI, dentre os quais 94 (17%) apresentavam desnutrição.
O desfecho primário avaliado durante um período de 4 anos foi a mortalidade por qualquer causa. Não foram encontradas diferenças no número de pacientes com desnutrição em relação ao tipo de tratamento recebido: tratamento borda a borda vs. tratamento médico completo com doses máximas toleradas (GDMT, por suas siglas em inglês).
Os pacientes com desnutrição tinham uma idade mais avançada, um índice de massa corporal mais baixo, um STS de mortalidade maior, níveis mais altos de BNP e níveis mais baixos de albumina sérica. No entanto, não houve diferenças em termos de comorbidades, presença de fibrilação atrial ou doença coronariana. Tampouco foram observadas diferenças nas variáveis ecocardiográficas.
O desfecho primário foi mais frequente nos pacientes com desnutrição (68,3% vs. 52,8%; p = 0,001), o mesmo tendo sido observado nas mortes por causas cardiovasculares (59,9% vs. 45,5%; p = 0,006) e nas mortes por insuficiência cardíaca (48,6 vs. 28,8; p = 0,0001).
Foi feita uma análise dos pacientes com desnutrição segundo o tipo de tratamento recebido, observando-se que a mortalidade por qualquer causa, a mortalidade cardiovascular e as mortes por insuficiência cardíaca foram mais frequentes nos pacientes que receberam GDMT em comparação com os que receberam o tratamento com o dispositivo de borda a borda.
Na análise multivariada, a desnutrição foi um preditor independente de mortalidade em 4 anos de acompanhamento nos pacientes com desnutrição que receberam GDMT em comparação com os que receberam o tratamento com o dispositivo de borda a borda.
Embora o tratamento combinado de borda a borda mais GDMT tenha sido superior ao GDMT em termos de hospitalizações por insuficiência cardíaca, não foram observadas diferenças significativas entre as duas estratégias em presença de desnutrição.
A desnutrição aumentou as hospitalizações não cardiológicas em ambos os grupos, mas não foram encontradas diferenças significativas entre eles.
Conclusão
A desnutrição foi observada em aproximadamente um de cada seis pacientes com insuficiência cardíaca e uma severa insuficiência mitral secundária. Associou-se de maneira independente a um aumento da mortalidade durante um período de quatro anos, mas não foi encontrada associação com a hospitalização por insuficiência cardíaca. Por outro lado, o tratamento borda a borda demonstrou reduzir tanto a mortalidade quanto as hospitalizações por insuficiência cardíaca em pacientes com e sem desnutrição.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Impact of Malnutrition in Patients With Heart Failure and Secondary Mitral Regurgitation. The COAPT Trial.
Referência: Scotti, et al. J Am Coll Cardiol 2023 Article In press.
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