Reinternação pós-tratamento do tronco do coronária esquerda e seu prognóstico: subanálise do EXCEL

Os estudos randomizados apresentados de maneira individual mostraram resultados variáveis no tocante ao risco de mortalidade após o tratamento da doença do tronco da coronária esquerda (TCE), seja por meio de angioplastia coronariana (PCI), seja por cirurgia de bypass coronariano (CABG). No entanto, ao avaliar as últimas metanálises (com dados equiparados), relataram-se riscos similares de mortalidade por todas as causas e de mortalidade cardiovascular entre os grupos. Cabe destacar que foram poucos os dados proporcionados sobre os índices de reinternação após o tratamento do TCE, seja com PCI ou CABG. 

Reinternación post tratamiento del tronco coronario y su pronóstico: subanálisis del EXCEL

O objetivo deste trabalho, apresentado por Kosmidou et al., foi determinar a incidência, preditores e impacto na mortalidade, bem como avaliar a readmissão por causas cardiovasculares (CV) e não cardiovasculares (não-CV) em pacientes com doença do tronco da coronária esquerda do estudo EXCEL. 

A modo de contextualização, o EXCEL foi um estudo internacional, multicêntrico e randomizado, que comparou stent com everolimus vs. CABG em pacientes com doença do TCE com SYNTAX de baixo a intermediário (≤ 32), candidatos a revascularização por ambas as técnicas. No seguimento, as reinternações foram classificadas com CV ou não-CV. 

O seguimento médio foi de 5,02 anos (Q1-Q3: 4,95-5,09 anos), tendo sido observadas 1868 reinternações em 851 de 1882 (45,2%) pacientes que saíram vivos do procedimento índice. Aproximadamente a metade dessas 1886 reinternações foram por causa CV e a outra metade por causa não-CV (927 [49,6%] e 941 [50,4%], respectivamente). Em geral, os pacientes com uma ou mais readmissões eram de faixa etária mais elevada, mais frequentemente do sexo feminino e com maior carga de comorbidades (incluindo diabetes, falha cardíaca, doença renal, anemia, DPOC e vasculopatia periférica), além de terem apresentado maior taxa de infarto agudo do miocárdio prévio e menor fração de ejeção. 

Leia Também: Estudo TENDER, evolução em um ano.

Observou-se que os pacientes submetidos a PCI apresentaram uma ou mais reinternações por qualquer causa em 48,6% dos casos e que em relação aos pacientes submetidos a CABG dita cifra foi de 41,8% dos casos (p = 0,003). Ao realizar um índice anualizado de eventos, o grupo de PCI apresentou 31,2% por paciente-ano em comparação com 24% por paciente-ano do grupo CABG (HR: 1,33; IC 95%: 1,12-1,56; p ≤ 0,0008). Dentre todas as internações, 9,8% ocorreram dentro dos 30 dias, com um índice similar entre as duas estratégias (87 [4,6%] vs. 96 [5,1%], respectivamente; p = 0,39).

As reinternações por causas cardíacas e relacionadas com sangramento foram mais frequentes no grupo submetido a PCI, ao passo que aquelas ocasionadas por infecções (da esternotomia e gerais), complicações vasculares periféricas e alterações músculo esqueléticas foram mais frequentes em CABG. 

Com a realização dos modelos preditivos, constatou-se que a readmissão por qualquer causa foi maior depois da PCI, afirmando-se este como um preditor independente de internação CV, mas não de reinternação não-CV. Ao avaliar a mortalidade, a reinternação por qualquer causa se associou de maneira independente a maior mortalidade por todas as causas  (aHR: 4,02; 95% CI: 2,78-5,81; p < 0,0001), mortalidade cardiovascular (aHR: 3,85; 95% CI: 2,16-6,85; p < 0,0001) e morte não-CV (aHR: 4,15; 95% CI: 2,57-6,70; p < 0,0001) dentro dos 5 anos de seguimento. 

Conclusões

Os resultados da subanálise do EXCEL mostraram uma frequência bastante elevada de reinternação, abarcando 45,2% dos casos, com uma distribuição intermediária entre causas CV e não-CV. Ao realizar a avaliação segundo a estratégia, os pacientes designados a PCI apresentaram maior índice de reinternação anualizado, senda dita estratégia, por sua vez, considerada um fator independente de reinternação.  

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Incidence, Predictors, and Impact of Hospital Readmission After Revascularization for Left Main Coronary Disease.

Referência: Kosmidou I, Shahim B, Dressler O, Redfors B, Morice MC, Puskas JD, Kandzari DE, Karmpaliotis D, Brown WM 3rd, Lembo NJ, Banning AP, Kappetein AP, Serruys PW, Sabik JF 3rd, Stone GW. Incidence, Predictors, and Impact of Hospital Readmission After Revascularization for Left Main Coronary Disease. J Am Coll Cardiol. 2024 Mar 19;83(11):1073-1081. doi: 10.1016/j.jacc.2024.01.012. PMID: 38479955.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

AHA 2025 | DECAF: consumo de café vs. abstinência em pacientes com FA — recorrência ou mito?

A relação entre o consumo de café e as arritmias tem sido objeto de recomendações contraditórias. Existe uma crença estendida de que a cafeína...

AHA 2025 | Estudo OCEAN: anticoagulação vs. antiagregação após ablação bem-sucedida de fibrilação atrial

Após uma ablação bem-sucedida de fibrilação atrial (FA), a necessidade de manter a anticoagulação (ACO) a longo prazo continua sendo incerta, especialmente considerando que...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...