Tratamento heterotópico na valva tricúspide

A insuficiência tricúspide (IT) se associa a uma alta morbidade e mortalidade, principalmente devido ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca, edemas periféricos, ascite, insuficiência renal e síndrome hepática com componente cardíaco. 

La insuficiencia renal post tratamiento borde a borde tricuspídeo impacta en el pronóstico

Em pacientes não candidatos à cirurgia – devido à elevada taxa de complicações e mortalidade associada à mesma –, o tratamento percutâneo se impôs como uma alternativa válida, sendo a abordagem borda a borda (TEER) a principal estratégia empregada. 

Há casos, no entanto, em que dita abordagem não é factível, o que torna necessário recorrer a válvulas percutâneas ou ao tratamento heterotópico. 

Foi feita uma análise de 20 pacientes com IT severa ou maior, sintomáticos e não elegíveis para cirurgia nem para TEER, que receberam tratamento heterotópico com o dispositivo Trillium. 

A idade média foi de 81 anos; 8 pacientes eram mulheres. O TRI-SCORE médio foi de 6. Todos os pacientes se encontravam em classe funcional III-IV, com um eGFR de 41 ml/min. Seis apresentavam ascite, nove tinham doença hepática crônica e seis tinham sido hospitalizados por insuficiência cardíaca no último ano. Além disso, quatro apresentavam DPOC, oito tinham marca-passo, todos cursavam fibrilação atrial, dois tinham antecedentes de cirurgia de revascularização miocárdica (CRM) e seis de cirurgia valvar. 

Leia também: É possível que o exercício intenso modifique o perfil de aterosclerose coronariana?

Seis pacientes tinham sido submetidos a uma intervenção prévia na valva tricúspide: um com anuloplastia e cinco com TEER. O diâmetro do anel tricúspide era de 53 mm, com um gap de 11 mm.

O implante do dispositivo foi bem-sucedido em todos os casos. A acesso utilizado foi o venoso femoral, sendo o tempo total do procedimento de 22 minutos. 

Em 30 dias um paciente faleceu, dois voltaram a ser hospitalizados por insuficiência cardíaca e dois apresentaram um sangramento gastrointestinal maior. Nenhum precisou de marca-passo definitivo nem cirurgia valvar. Não houve casos de embolização do dispositivo. Observou-se, ademais, uma diminuição significativa da pressão venosa central, melhora na classe funcional, na qualidade de vida e um incremento não significativo na distância percorrida na caminhada de 6 minutos. 

Conclusão

O dispositivo Trillium demostrou ser seguro para o tratamento da insuficiência tricúspide severa ou maior em pacientes não elegíveis para outras terapias. Seu uso se associa a uma melhora hemodinâmica e sintomática. Contudo, são necessários estudos randomizados que respaldem os resultados favoráveis aqui apresentados. 

Título Original: Heterotopic Crosscaval Transcatheter Tricuspid Valve Replacement for Patients With Tricuspid Regurgitation. The Trillium Device. 

Referência: Philipp Lurz,  et al. JACC Cardiovasc Interv. 2025;18:1425–1434.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Dr. Carlos Fava
Dr. Carlos Fava
Membro do Conselho Editorial da solaci.org

Mais artigos deste autor

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...

É realmente necessário monitorar todos os pacientes após o TAVI?

Os distúrbios de condução (DC) posteriores ao implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) constituem uma complicação frequente e podem incidir na necessidade de um...

Valvoplastia aórtica radial: vale a pena ser minimalista?

A valvoplastia aórtica com balão (BAV) foi historicamente empregada como estratégia de “ponte”, ferramenta de avaliação ou inclusive tratamento paliativo em pacientes com estenose...

Fibrilação atrial após oclusão percutânea do forame oval patente: estudo de coorte com monitoramento cardíaco implantável contínuo

A fibrilação atrial (FA) é uma complicação bem conhecida após a oclusão do forame oval patente (FOP), com incidência relatada de até 30% durante...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...