Devemos considerar a estenose mitral antes do TAVI

A associação entre estenose aórtica e algum grau de estenose mitral (EM) é de aproximadamente 10% (dependendo das séries) e está relacionada com um impacto negativo na evolução.

Nos pacientes de alto risco ou inoperáveis que receberam  TAVI não se estudou dita associação nem sua significância.

 

Foram analisados os dados do Registro STS/ACC TVT, que incluem 44.755 pacientes. Dentre eles, 39.554 não apresentava EM (88,4%), 3.987 EM não severa (8,9%) e 1.214 EM severa (2,7%).

 

O desfecho primário foi a combinação de morte por qualquer causa, AVC, hospitalização por insuficiência cardíaca e intervenção mitral em um ano de seguimento.


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A idade média dos pacientes foi de 82 anos (52% de homens). Os que padeciam de EM apresentaram mais frequentemente insuficiência cardíaca classe funcional IV, diálise, insuficiências de outras valvas e mais procedimentos valvares não aórticos prévios. Além disso, com menor frequência, exibiram doença do tronco da coronária esquerda ou lesões proximais em vasos epicárdicos maiores.

 

A presença de insuficiência mitral severa foi mais frequente naqueles pacientes com EM severa.

 

No âmbito hospitalar, a EM severa se associou a maior mortalidade comparada com os que apresentavam EM não severa e os que não apresentavam EM (5,6% vs. 4,1% vs. 3,9%; p = 0,002). A existência de regurgitação aórtica moderada a severa foi maior também neste grupo. Não houve diferenças quanto a IAM e AVC. Tampouco na combinação de morte e AVC.


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Em um ano de seguimento o desfecho primário foi mais frequente nos pacientes com EM severa (40,2% vs. 33,5% vs. 33,7%; p = 0,0006). Estes pacientes tiveram, ademais, maiores índices de mortalidade e internação por insuficiência cardíaca quando comparados com os outros dois grupos, mas sem haver diferenças na taxa de AVC.

 

A necessidade de uma intervenção mitral foi mais frequente nos pacientes que apresentaram EM sevara antes do TAVI (1,4% vs. 0,4% vs. 0,4%; p = 0,005).

 

Após o ajuste das variáveis a EM severa se associou a uma taxa mais elevada de desfecho primário e a maiores taxas de mortalidade e internação por insuficiência cardíaca em um ano de seguimento.

 

Conclusão

Aproximadamente um de cada dez pacientes que recebem TAVI têm estenose mitral concomitante. A estenose mitral severa é um preditor independente de eventos adversos em um ano de seguimento. O alto risco de eventos adversos no seguimento deve ser considerado quando avaliamos um paciente com estenose aórtica e estenose mitral para TAVI.

 

Comentário

Esta interessante análise nos mostra que cada vez mais devemos considerar um número maior de elementos no momento de avaliar um paciente para o TAVI.

 

Embora seja pouco frequente a presença da entidade aqui abordada, uma média de 10% e um de cada quatro pacientes apresenta severidade, com um forte impacto adverso em um ano e, além disso, uma maior necessidade de realizar futuras intervenções na valva mitral.

 

É importante para o Heart Team conhecer bem esta situação pouco frequente e ser muito claros com o paciente e seu entorno pelos eventos futuros.

 

Gentileza do Dr. Carlos Fava.

Título original: Prevalence and Outcome of Mitral Stenosis in Patients Undergoing Trancatheter Aortic Valve Replacement. Findings From the Society Of Thoracic Surgerons/American College of Cardiology Transcatheter Valve Therapies Registry.

Referência: Lee Joseph, et al. J Am Coll Cardiol Intv 2018;11:693-702.


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