Fundamentos: A regurgitação mitral severa (MR) representa a segunda doença cardíaca valvar mais prevalente nos países ocidentais. De um terço a metade dos pacientes que necessitam de reparo da valva mitral / substituição são considerados de muito alto risco para cirurgia. O procedimento percutâneo mitral de reparo de borda a borda surgiu como uma alternativa válida para a cirurgia, mas requer uma anatomia favorável. A substituição valvar mitral transcateter (TMVR) surgiu recentemente como uma nova opção terapêutica para o tratamento da doença da válvula mitral – no entanto, a experiência atual é muito limitada. Segundo informações do fabricante, a valva Edwards Fortis ® é de nitinol, auto-expansível, de 29mm, feita com tecido de pericárdio bovino, anti-calcificação. O dispositivo de entrega tem 42F, via transapical, múltiplos níveis de controle e reposicionável.
Objetivos: Avaliar os resultados peri-procedimento e a médio prazo da experiência first-in-human com a substituição da valvar mitral percutânea (TMVR) com a valva Edwards FORTIS®.
Métodos: Foram tratados 13 pacientes em centros na Europa e no Canadá, entre fevereiro de 2014 e março de 2015. No trabalho prévio ao procedimento, foi realizada avaliação clínica, ecocardiograma transtorácico e transesofágico, tomografia computadorizada, e analisados os resultados imediados peri-procedimento e aos 30 dias. O sucesso do procedimento foi demonstrado com a ausência de mortalidade peri-procedimento, o posicionamento correto da prótese valvar na localização anatômica adequada, e ausência de refluxo mitral moderado ou importante. As complicações peri-procedimento foram analisadas a partir dos critérios VARC-2. Realizado seguimento em 1 e 6 meses, clínico e ecocardiográfico. Adquiridas imagens cardíacas (tomografia computadorizada e ecocardiograma transesofágico) em 3 meses de seguimento. Avaliação funcional e qualidade de vida após 3 e de 6 meses de seguimento.
Resultados: Sucesso no procedimento com sobrevida em 30 dias foi de 76,9%. O implante adequado da válvula esteve associado com o desempenho ideal da válvula em todos os casos. O desempenho da válvula foi mantido em 6 meses de seguimento e foi associado com a melhoria do estado funcional e da qualidade de vida dos pacientes. Um paciente evoluiu a óbito após 15 dias do procedimento, provavelmente por trombose da prótese valvar.
Conclusões: Esta experiência first-in-man demonstrou a viabilidade de TMVR com a valva Edwards FORTIS®. O implante adequado da valva associou-se ao desempenho ideal da prótese.
Comentários: Os desafios do implante e peri-procedimento podem justificar o uso dessas próteses, além do risco cirúrgico excessivo de alguns dos pacientes selecionados. A complexidade do sistema valvar mitral e a curva de aprendizado também devem ser contabilizados na análise dos resultados. O tratamento anticoagulante é provavelmente importante para valvas mitrais transcateter, mas o tipo e a duração do tratamento antitrombótico ideal precisam ser melhor avaliados. Estudos maiores, com um maior tempo de seguimento, são necessários para validar esses dados.
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Joseph Rodes Cabau
2015-05-21
Título original: Transcatheter mitral valve replacement: compassionate clinical use experience – Edwards Fortis Valve®