Menos volume, mais mortalidade: devemos nos preocupar?

Gentileza do Dr. Agustín Vecchia.

Menos volume, mais mortalidade: devemos nos preocupar?Em geral, os guias recomendam um número de procedimentos anuais que se estima como suficiente para manter a experiência dos operadores em níveis aceitavelmente seguros. Embora se trate de um número arbitrário, as aptidões dos operadores variam consideravelmente. Em mais de uma publicação foi relacionado de maneira inversamente proporcional o volume de procedimentos realizados pelos operadores com os desfechos dos procedimentos que realizam.

 

O presente trabalho incorporou 10.496 operadores do National Cardiovascular Data Registry com um total de 3.747.866 PCIs e dividiu-os de acordo com o volume em: baixo volume (< 50 PCIs por ano), volume médio (de 50 a 100 PCIs por ano) e alto volume (> 100 PCIs por ano). Foram determinados de maneira ajustada para cada grupo os desfechos intra-hospitalares e a mortalidade.

 

A média de PCIs realizadas por ano para todo o grupo foi de 59; 44% dos operadores realizaram menos de 50 procedimentos por ano. Os operadores de baixo volume que ademais trabalhavam em hospitais de baixo volume realizaram com maior frequência procedimentos de emergência e angioplastias primárias que aqueles com maior volume. A mortalidade intra-hospitalar não ajustada foi de 1,86% para os operadores de baixo volume, de 1,73% para operadores de volume médio e de 1,48% para os operadores de alto volume. O risco ajustado de mortalidade intra-hospitalar foi maior naqueles procedimentos realizados por operadores de volume baixo e médio (OR ajustada para baixo vs. alto: 1,16; OR ajustada para médio vs. alto: 1,05). Também foi maior o risco de nova diálise pós-PCI. Em sangramento não foram observadas diferenças.

 

Os autores concluem que muitos dos operadores dos Estados Unidos estão realizando menos procedimentos do que o recomendado pelos guias de prática, e que, apesar de as diferenças em risco absoluto serem pequenas e poderem ser parcialmente explicadas por variáveis não medidas, mantém-se uma relação inversamente proporcional entre o volume do operador e a mortalidade intra-hospitalar que persiste para além das análises multivariadas ajustadas.

 

Comentário editorial

O presente trabalho sobre uma população muito numerosa estudada entre os anos 2009 e 2015 apresenta muitos dados interessantes que excedem as possibilidades de serem traduzidos neste comentário, mas merecem ser lidos no trabalho original; exemplo disso são a baixa taxa de utilização da via radial, mais de um quarto dos pacientes tratados com stents convencionais, uma alta taxa de utilização de bivalirudina, etc.

 

Quanto ao tema central, embora as diferenças absolutas sejam muito pequenas, consolida-se o conceito da relação inversamente proporcional entre volume e mortalidade. Em síntese, se um operador perde 50 casos em um ano, sua mortalidade aumenta relativamente em 4%. No entanto, mesmo sabendo que o volume do operador e o volume do centro são dois parâmetros importantes, atualmente a complexidade que alcançou nossa prática obriga a adotar um enfoque mais holístico na hora de avaliar os operadores.

 

Gentileza do Dr. Agustín Vecchia.

 

Título original: Outcomes of PCI in Relation to Procedural Characteristics and Operator Volumes in the United States.

Referência: 10.1016/j.jacc.2017.04.032.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

AHA 2025 | DECAF: consumo de café vs. abstinência em pacientes com FA — recorrência ou mito?

A relação entre o consumo de café e as arritmias tem sido objeto de recomendações contraditórias. Existe uma crença estendida de que a cafeína...

AHA 2025 | Estudo OCEAN: anticoagulação vs. antiagregação após ablação bem-sucedida de fibrilação atrial

Após uma ablação bem-sucedida de fibrilação atrial (FA), a necessidade de manter a anticoagulação (ACO) a longo prazo continua sendo incerta, especialmente considerando que...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...