Como classificar a estenose aórtica dos pacientes que receberam TAVI?

Gentileza do Dr. Carlos Fava.

estenose aórtica pode se apresentar com diferentes padrões hemodinâmicos, como por exemplo o baixo fluxo e o baixo gradiente com função ventricular conservada ou deteriorada. No entanto, a evidência de sua evolução nos diferentes padrões hemodinâmicos no TAVI é limitada.

 Como classificar a estenose aórtica dos pacientes que receberam TAVI?

No presente estudo realizou-se uma análise retrospectiva de 368 pacientes que receberam TAVI. A população foi dividida em 4 grupos:

  1. Fração de ejeção normal e alto gradiente (FEN-AG):fração de ejeção (FE) ≥ 50%, vmax ≥ 4 m/s ou Pmean ≥ 40 mmHg e área valvar aórtica (AVA) ≤ 1 cm2 ou AVA indexada ≤ 0,6 cm2/m2.
  2. Baixo fluxo e baixo gradiente paradoxal (BF-BGP):FE ≥ 50%, vmax ≤ 4 m/s ou Pmean ≤ 40 mmHg, AVA ≤ 1 cm2 ou AVA indexada ≤ 0,6 cm2/m2 e índice de volume sistólico < 35 ml/m2.
  3. Baixa FE e alto gradiente (BFE-AG):FE < 50%, vmax ≥4 m/s ou Pmean ≥ 40 mmHg e área valvar aórtica (AVA) ≤ 1 cm2 ou AVA indexada ≤ 0,6 cm/m2.
  4. Baixa FE e baixo gradiente (BFE-BG):FE < 50%, vmax < 4 m/s ou Pmean < 40 mmHg e área valvar aórtica (AVA) ≤1 cm2 ou AVA indexada ≤ 0,6 cm/m2

 

Dos 368 pacientes, 147 ficaram incluídos no grupo FEN-AG (37%), 63 ficaram no grupo BFE-AG (16%), 77 ficaram no grupo BFE-BGP (19%) e 81 ficaram no grupo BFE-BG (20%).

 

A idade média foi de 82 anos (com maior proporção de mulheres). Os pacientes que apresentaram FEN-AG foram “mais saudáveis”, enquanto que os outros três grupos exibiram mais comorbidades e escores de risco cirúrgico mais altos (especialmente os de BFE-BG).


Leia também: “A estenose aórtica com baixo gradiente não melhora com TAVI”.


Não houve diferenças no procedimento nem no tipo de anestesia. Os tempos de procedimento, fluoroscopia e a quantidade de contraste foram similares.

 

A mortalidade hospitalar dentro dos 30 dias foi menor nos pacientes que apresentaram FEN-AG e maior no grupo BFE-BG (8,2% FEN-AG, 17% BFE-BGP, 13% BFE-AG e 24% BFE-BG, p = 0,01). Além disso, o grupo de BFE-BG necessitou de maneira mais frequente RCP, assistência respiratória mecânica e maior estadia hospitalar. A fração de ejeção de ventrículo esquerdo se incrementou nos dois grupos que a tinham diminuída antes do TAVI.

 

A mortalidade global em um ano foi de 26%, sendo mais baixa no grupo FEN-AG (14,3% FEN-AG, 31,2% BF-BGP, 22,2% BFE-AG e 43,2% BFE-BG; p =< 0,0001).


Leia também: “TAVR em estenose aórtica com LOTUS”


Em 5 anos a mortalidade por qualquer causa, a mortalidade cardíaca, reinternações e MACCE foram maiores nos grupos BFE-BG, BFE-AG e BFE-BGP.

 

Na análise multivariada a BFE-BG emerge como preditor de alto risco de mortalidade por qualquer causa, mortalidade cardiovascular e MACCE. O mesmo não é válido para a fração de ejeção basal nem para o índice de volume sistólico < 35 ml/m2.

 

Conclusão

Os achados acima relatados sugerem que a avaliação exclusiva da fração de ejeção do ventrículo esquerdo para predizer a evolução após o TAVI é inadequada. É o subtipo da estenose aórtica definida nos guias que determina a evolução.

 

Comentário

Esta análise mostra que devemos começar a classificar os pacientes para os quais indicamos TAVI não só utilizando a fração de ejeção – que é um número relativo (com as limitações que isso representa) – mas de acordo com outros fatores hemodinâmicos.

 

Embora seja verdade que os pacientes que exibiram BFE-BG foram o grupo com mais comorbidades, deterioro da função renal e escores de risco mais altos, os outros dois grupos (comparados com o segmento FEN-AG) apresentaram uma mortalidade global e cardíaca mais alta, especialmente o de BF-BGP.

 

Por isso é importante começar a avaliar a função ventricular com o índice de volume sistólico e analisar as condições hemodinâmicas. Isso permite, por um lado, predizer com muito mais exatidão a fração ventricular e, por outro, tratar os pacientes antes da queda da fração de ejeção.

 

Gentileza do Dr. Carlos Fava.

 

Título Original: Long-term outcomes after TAVI in patients with different types of aortic stenosis: the conundrum of low, low gradient and low ejection fraction.

Referência: Miriam Puls, et al. EuroIntervention 2017;13:286-293   


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...

É realmente necessário monitorar todos os pacientes após o TAVI?

Os distúrbios de condução (DC) posteriores ao implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) constituem uma complicação frequente e podem incidir na necessidade de um...

Valvoplastia aórtica radial: vale a pena ser minimalista?

A valvoplastia aórtica com balão (BAV) foi historicamente empregada como estratégia de “ponte”, ferramenta de avaliação ou inclusive tratamento paliativo em pacientes com estenose...

Fibrilação atrial após oclusão percutânea do forame oval patente: estudo de coorte com monitoramento cardíaco implantável contínuo

A fibrilação atrial (FA) é uma complicação bem conhecida após a oclusão do forame oval patente (FOP), com incidência relatada de até 30% durante...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...