É possível que um jogo de futebol leve alguém a ter um infarto? O estresse de assistir à nossa equipe pode desencadear um evento cardiovascular? Muitos pensarão que isso é um exagero. Entretanto, isso não só é possível, é algo que já está claramente provado há muito tempo. E o momento ideal para responder a perguntas como as formuladas acima é, definitivamente, durante a copa do mundo.
Sempre costumamos comentar os últimos artigos, mas a copa do mundo não passa despercebida para ninguém e menos ainda na América Latina. É por isso que trazemos de bandeja este trabalho publicado no NEJM há quase 10 anos.
A copa do mundo de 2006, na Alemanha, deu-nos a oportunidade de examinar a relação entre o estresse emocional e a incidência de eventos cardiovasculares. Foram registradas de maneira prospectiva a incidência de eventos em Munique durante a copa do mundo e nos mesmos meses de outros anos como períodos de controle.
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No período durante o qual transcorreu a copa do mundo foram observados 4.279 eventos cardiovasculares agudos, muitos mais que nos períodos de controle.
Durante os dias nos quais a equipe alemã jogava a incidência de emergências cardíacas chegou a quase o triplo que durante o período controle (2,66 vezes mais, 2,33 a 3,04; p = 0,0001), mas se considerarmos somente os homens, a incidência superou as mencionadas 3 vezes (3,26 vezes; p < 0,001). As mulheres puderam desfrutar dos partidos um pouco mais tranquilas, embora sua chance de eventos tenha sido quase o dobro que durante o período controle (1,82 vezes).
Quarenta e sete por cento dos que apresentaram eventos apresentavam doenças coronarianas já conhecidas em comparação com somente 29,1% do período controle.
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O momento no qual se observou o pico de eventos foi durante as 2 horas prévias ao início das partidas nas quais jogava a equipe alemã.
A incidência global de infartos com supradesnivelamento do segmento ST durante a copa do mundo foi 2,49 vezes mais alta, a de infartos sem supradesnivelamento do segmento ST ou angina instável foi 2,61 vezes mais alta e a incidência de arritmias potencialmente mortais foi 3,07 vezes mais alta que durante o período de controle (p < 0,0001 para todas as comparações).
É necessário levar em consideração o fato de este trabalho ter sido realizado em uma população que em geral consideramos mais “fria” que o geral da população latino-americana. Qual terá sido a incidência de infartos no Brasil em 2014 quando se estava jogando a semifinal ou qual terá sido a incidência de infartos na Argentina agora em 2018 ao ver que seu melhor jogador perdia um pênalti? Provavelmente nunca tenhamos os números exatos, mas sim é seguro que houve muito mais infartos que em qualquer outro momento.
Conclusão
Assistir a uma partida de futebol estressante durante a copa do mundo no mínimo duplica o risco de apresentação de eventos cardiovasculares. Diante de tais resultados, seria necessário a implementação de medidas preventivas nos homens com doença coronariana conhecida.
Título original: Cardiovascular Events during World Cup Soccer.
Referência: Ute Wilbert-Lampen et al. N Engl J Med 2008;358:475-83.
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