A fisiologia coronariana – FFR e iFR – demonstrou ser segura no diferimento das lesões e efetiva na economia de stents em diferentes estudos randomizados e registros. Contudo, existe um grupo de pacientes com deterioração da função renal que não foi completamente analisado, o que faz com que surja a incógnita sobre o que ocorre se – perante uma avaliação fisiológica negativa nesse grupo – a doença aterosclerótica avançar com maior velocidade e for necessário fazer testes de esforço antes do estipulado.
Este é um estudo retrospectivo no qual foram incluídos 439 pacientes. Dentre eles, 319 (72,2%) apresentavam função renal normal (FRN) avaliada mediante filtração glomerular (eGFR > 60 mL/min/1,73 m2,), e 120 evidenciavam doença renal crónica (CKD) (filtração glomerular eGFR < 60 mL/min/1,73 m2).
Dentre os pacientes com FRN, 251 foram diferidos com FFR (78,7%) e 78 com iFR (21,3%), ao passo que no grupo CKD 94 foram diferidos com FFR (78,3%) e 26 com iFR (21,7%).
O desfecho primário (DP) foi a combinação de morte por qualquer causa, infarto ou revascularização não planejada. O desfecho secundário foi definido como morte por qualquer causa, morte cardíaca, infarto e revascularização não planejada.
Os pacientes que tinham CKD apresentavam uma média de idade maior, mais hipertensão, diabetes, doença vascular periférica e utilização de anticoagulantes, mas menor uso de AAS.
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Não houve diferença no número de lesões interrogadas nem na localização. A artéria envolvida com maior frequência foi a DA.
O FFR foi utilizado em 80% das vezes.
Em 4 anos de seguimento o DP foi maior nos pacientes que apresentavam CKD (25% vs. 14% p = 0,01). Além disso, também foi maior a mortalidade por qualquer causa (13,3% vs. 5,3%, p = 0,006) e a mortalidade cardiovascular (5,8% vs. 1,3%; p = 0,01). A revascularização não planejada também foi maior, mas sem alcançar a diferença estatística. Não houve divergências no que se refere ao infarto relacionado com o vaso tratado.
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Os pacientes com estágio 4 ou 5 de CKD apresentaram mais eventos em comparação com o grupo FRN.
Analisou-se a evolução de acordo com a estratégia utilizada para avaliar as lesões e não foram encontradas diferenças entre o FFR e o iFR.
Conclusão
Os pacientes com deterioração da função renal e lesões coronarianas diferidas após a utilização de guias de pressão desenvolvem mais eventos a longo prazo em comparação com aqueles que apresentam uma função renal conservada. No entanto, o incremento dos eventos nos pacientes com deterioração da função renal raramente esteve relacionado com o vaso que foi diferido, o que sugere um epifenômeno de um risco cardiovascular intrinsecamente maior dos pacientes com deterioração da função renal.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Safety of coronary revascularization deferral based on fractional flow reserve and instantaneous wave-free ratio in patients with chronic kidney disease.
Referência: Alejandro Travieso, et al. Cardiol J 2022, 29, 4: 553–562.
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