Progress-CTO Score: uma ferramenta crucial para o planejamento das CTO

A intervenção das oclusões totais crônicas (CTO) através de angioplastia (PTCA) pode chegar a acarretar complicações, mesmo em centros de elevada experiência. 

Muito se escreveu sobre a probabilidade de sucesso do tratamento das CTO com a utilização de escores como o CL-SCORE, o J-CTO, o ORA, o E-CTO, o CASTLE-CTO, entre outros (alguns deles, de uso habitual na preparação prévia dos casos). 

No entanto, além de estimar a probabilidade de sucesso, devemos contar com ferramentas que possam determinar o risco do procedimento, o que é fundamental tanto para o planejamento quanto para a comunicação da complexidade da intervenção ao paciente.

O objetivo deste trabalho foi realizar uma análise das variáveis que implicam maior risco e poder efetuar uma atualização do escore inicial publicado há 6 anos. Realizou-se um estudo sobre os dados do registro prospectivo global de CTO, denominado PROGRESS-CTO, que incluiu aproximadamente 40 centros com alto volume de PTCA de CTO

O MACE foi definido como a combinação de morte, IAM, AVC, revascularização urgente ou pericardiocentese. O sucesso do procedimento foi definido como sucesso técnico mais a ausência de MACE intra-hospitalar. Foram analisadas variáveis demográficas e técnicas, tendo sido a calcificação um dos parâmetros avaliados. A mesma foi classificada como leve (segmentos curtos), moderada (50% de calcificação em comparação com o diâmetro de referência da lesão) ou severa (≥ 50%).  

Leia também: Insuficiência tricúspide: tratamento borda a borda com PASCAL.

Foi levada a cabo uma regressão logística multivariada e, posteriormente, uma elaboração de curvas ROC para determinar a área abaixo da curva (AUC) dos escores. 

De um total de 10.487 PTCA de CTO, observou-se MACE durante a estadia hospitalar em 2,05% dos casos, com uma mortalidade de 0,45%, IAM de 0,63% e requerimento de pericardiocentese de 1,08%. Os pacientes que experimentaram MACE em geral eram mais idosos, predominantemente mulheres, com calcificação classificada em moderada ou severa, J-CTO score maior e menor sucesso com a estratégia de escalamento anterógrado de cordas. 

Foram usados escores de risco de MACE, mortalidade, pericardiocentese e IAM. Para a elaboração do escore para predizer MACE incluiu-se idade (> 65 anos), sexo (feminino, +2), calcificação moderada a severa, estratégia de crossing (dissecção e reentrada anterógrada [DR] +1 ou retrograda +2) e munhão da oclusão (obtuso ou não), apresentando uma AUC de 0,74 (IC 95% 0,70-0,78) com uma adequada validação interna.

Leia também: Impacto nas colaterais pós-intervenção de uma CTO.

Ao avaliar a mortalidade incluiu-se idade, função ventricular, CRM prévia, calcificação moderada a severa e a técnica de crossing (CR anterógrada ou estratégia retrógrada), apresentando uma AUC de 0,80 (IC 95% 0,73-0,86). 

O mesmo foi feito em relação ao risco de pericardiocentese, mostrando uma AUC de 0,78 (IC 95% de 0,72-0,83), ao passo que para o IAM evidenciou-se uma AUC de 0,72 (IC 95% 0,62-0,82)

Conclusões

Este estudo permitiu realizar e validar internamente 4 escores de risco para a PTCA de CTO, permitindo realizar uma atualização do escore previamente apresentado há 6 anos (dados sobre 1065 pacientes). Conta principalmente com a limitação própria de dados observacionais e do viés de um escasso número de complicações por tratar-se de centros de elevada experiência nesse tipo de patologias, o que limita parcialmente sua extrapolação. 

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Título Original: Predicting Periprocedural Complications in Chronic Total Occlusion Percutaneous Coronary Intervention.

Fonte: J Am Coll Cardiol Intv. 2022 Jul, 15 (14) 1413–1422.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

Doença coronariana em estenose aórtica: dados de centros espanhóis em cirurgia combinada vs. TAVI + angioplastia

O implante valvar percutâneo (TAVI) demonstrou em múltiplos estudos randomizados uma eficácia comparável ou superior à da cirurgia de revascularização miocárdica (CRM). No entanto,...

Evolução das válvulas balão-expansíveis pequenas

Os anéis aórticos pequenos (20 mm) têm se constituído em um verdadeiro desafio, tanto em contexto de cirurgia como em implante percutâneo da valva...

TCT 2024 | FAVOR III EUROPA

O estudo FAVOR III EUROPA, um ensaio randomizado, incluiu 2000 pacientes com síndrome coronariana crônica ou síndrome coronariana aguda estabilizada e lesões intermediárias. 1008...

TCT 2024 – ECLIPSE: estudo randomizado de aterectomia orbital vs. angioplastia convencional em lesões severamente calcificadas

A calcificação coronariana se associa à subexpansão do stent e a um maior risco de eventos adversos, tanto precoces quanto tardios. A aterectomia é...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

OPTION Trial: Oclusão de apêndice atrial esquerdo

A ablação da fibrilação atrial é uma estratégia válida, embora frequentemente ocorram recidivas, muitas vezes assintomáticas.  A anticoagulação com varfarina demonstrou ser efetiva em dito...

Insuficiência tricúspide severa: comparação do tratamento cirúrgico vs. terapêutica borda a borda transcateter

A insuficiência tricúspide é uma valvopatia de alta prevalência que apresenta uma notável taxa de subtratamento. Sem intervenção, sua progressão se associa com uma...

Estudo TRI-SPA: Tratamento borda a borda da valva tricúspide

A insuficiência tricúspide (IT) é uma doença associada a alta morbimortalidade. A cirurgia é, atualmente, o tratamento recomendado, embora apresente uma elevada taxa de...