O tratamento da insuficiência tricúspide (IT) adquiriu grande importância no âmbito do intervencionismo. Há abundantes publicações acerca do prognóstico desfavorável da evolução natural dessa doença, bem como dos desafios clínicos associados a um tratamento médico ótimo.
Dentre as opções percutâneas, tanto os dispositivos de reparação borda a borda (TEER), como se evidencia nos registros TriValve e no estudo TRILUMINATE, quanto os dispositivos de implante percutâneo da valva tricúspide (TTVR), conforme evidenciado no estudo TRISCEND, trazem-nos resultados promissores.
Apesar de a TEER se apresentar como a primeira escolha nesses casos devido à experiência no manejo mitral, tem-se observado uma incidência significativa de IT residual ≥ severa, aproximadamente EM 43-48% dos casos. Com o propósito de eliminar essa patologia residual, foi desenvolvida a terapêutica de implante transcateter. Experiências iniciais indicam uma diminuição considerável da severidade em mais de 98% dos casos.
O sistema EVOQUE, que consiste em uma válvula implantável de pericárdio bovino trivalve com três diâmetros disponíveis (44mm, 48mm e 52mm), junto com um delivery femoral de 28 Fr, mostrou resultados promissores. Sua ancoragem, composta por um anel de nitinol com 9 fixações para garantir a estabilidade e uma saia seladora para reduzir a regurgitação paravalvar, demonstrou ser eficaz.
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Para avaliar os resultados a longo prazo do sistema em uma amostra considerável, foram apresentados eventos clínicos e ecográficos no contexto do estudo TRISCEND, um estudo prospectivo, multicêntrico e de um único ramo. Dito estudo avaliou a segurança e o rendimento do sistema EVOQUE em pacientes com IT sintomática ≥ moderada, apesar do tratamento médico, e com anatomia apropriada para TTVR.
Foram excluídos os pacientes com instabilidade hemodinâmica, hipertensão pulmonar severa, disfunção ventricular direita severa, insuficiência cardíaca (IC) refratária e fração de ejeção ≤ 25%. Também foram excluídos os pacientes com um cabo de marca-passo recentemente implantado (nos anteriores 3 meses).
O desfecho de segurança consistiu em uma combinação em 30 dias de efeitos adversos maiores (EAM), que incluía mortalidade cardiovascular, AVC, infarto agudo do miocárdio, complicações renais, sangramento severo, reintervenção valvar não eletiva, complicações maiores no lugar da punção e complicações vasculares.
Os desfechos de rendimento foram o “sucesso do dispositivo”, definido como um implante adequado, o “sucesso do procedimento”, definido como a ausência de regurgitação paravalvar por ecocardiograma, e o “sucesso clínico”, definido como a ausência de eventos adversos maiores em 30 dias.
Participaram do estudo 176 pacientes de 20 centros da América do Norte e da Europa, com 71% de participantes do sexo feminino e uma idade média de 78,7 anos. O risco STS foi de 7,4%. A insuficiência tricúspide era de grau ≥ severo em mais de 88% dos casos, sendo a etiologia secundária predominante (68,2%). Em termos clínicos, 75,4% dos pacientes se enquadravam em classe funcional III ou IV (NYHA). Com relação às comorbidades, 92% tinham fibrilação atrial, 84% apresentavam hipertensão arterial e 75% hipertensão pulmonar.
O acesso femoral foi alcançado com sucesso em 99,4% dos pacientes, com um tempo médio de internação de 3 dias. Observou-se um sucesso do dispositivo em 94,4% dos casos, com um sucesso do procedimento em 93% e um sucesso clínico em 77,1%.
Em 30 dias, os eventos compostos de efeitos adversos maiores foram de 18,6%, com uma mortalidade cardiovascular de 1,7% e uma reinternação não eletiva em 2,3% dos casos. Cabe destacar que em um dos casos foi levado a cabo um valve-in-valve por falha anatômica e houve 2 explanes por embolização.
Ao avaliar o seguimento em um ano, a mortalidade por todas as causas foi de 9,1% e o índice de hospitalização por insuficiência cardíaca foi de 10,2%. Ao comparar as hospitalizações anuais por IC prévias ao dispositivo, observou-se uma redução relativa de 74,9%. Na análise ecocardiográfica, 97,6% dos pacientes apresentavam insuficiência tricúspide ≤ leve, ao passo que em 69% dos casos a insuficiência tricúspide era trivial.
Conclusões
Em resumo, os resultados do estudo TRISCEND sobre o sistema EVOQUE mostraram um sucesso do dispositivo e do procedimento de 94,4% e 93%, respectivamente, com uma redução de 74,9% das hospitalizações por IC. A análise ecocardiográfica revelou que 97,6% dos pacientes apresentavam uma redução a ≤ leve.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Transfemoral tricuspid valve replacement and one-year outcomes: the TRISCEND study.
Referência: Kodali, Susheel et al. “Transfemoral tricuspid valve replacement and one-year outcomes: the TRISCEND study.” European heart journal vol. 44,46 (2023): 4862-4873. doi:10.1093/eurheartj/ehad667.
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