A doença tromboembólica venosa (DTV) representa uma das principais causas de morte de origem cardiovascular. O tromboembolismo pulmonar (TEP) pode variar, apresentando-se como assintomático ou, no extremo oposto, manifestando-se com choque e morte súbita, com um amplo espectro clínico. É fundamental fazer um acompanhamento intensivo dos pacientes afetados, já que se observou que aqueles que sobrevivem ao TEP costumam experimentar sintomas residuais a longo prazo, como a dispneia ou a deterioração da capacidade funcional.
Durante décadas, o tratamento padrão foi a anticoagulação, reservando-se a trombólise para os pacientes com instabilidade hemodinâmica. Contudo, devido às consequências crônicas do TEP, tanto o tratado quanto o não tratado, observou-se um aumento do uso de terapias dirigidas por cateter (TDC) ou trombectomias mecânicas (TM) com o objetivo de conseguir uma reperfusão rápida.
Os pacientes com risco intermediário demonstraram se beneficiar da TDC em termos de desfechos sub-rogados, como o cociente VD/VE e a diminuição da pressão média da artéria pulmonar. Apesar disso, a evidência sobre desfechos “duros”, como a mortalidade intra-hospitalar e as readmissões em 30 e 90 dias, é limitada.
Foi realizada uma análise retrospectiva da base de dados nacional de readmissões (NRD), utilizando-se como critério de inclusão o TEP com cor pulmonale, infarto agudo do miocárdio tipo 2 ou insuficiência cardíaca direita sem choque nem parada cardiorrespiratória. O desfecho primário foi a mortalidade intra-hospitalar, ao passo que os desfechos secundários incluíram sangramento intra-hospitalar gastrointestinal e intracraniano, sangramento pós-procedimento e necessidade de transfusões.
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Das 402.799 admissões registradas por TEP, 3,7% foram consideradas de alto risco, e dentre estas, 13,9% receberam tratamento com TDC (51,1% com TDC unicamente, 37% com TM unicamente e 11.8% com ambas). Os pacientes submetidos a TDC eram mais jovens, com menores índices de parada cardiorrespiratória e uma maior prevalência de trombose venosa profunda em comparação com os pacientes que não foram submetidos a intervenção percutânea.
Depois de ajustar mediante análise de probabilidade inversa de tratamento (ITPW), observou-se que os pacientes tratados com TDC tinham uma menor mortalidade intra-hospitalar (45% vs. 49,7%; p < 0,001; OR: 0,83 e IC de 95%: 0,80-0,87), um menor risco de sangramento digestivo (6,9% vs. 7,7%; p < 0,006; OR: 0,88 e IC de 95%: 1,06-1,19), mas um maior risco de sangramento intracraniano (3,1% vs. 2,7%; p = 0,016; OR: 1,18 e IC de 95%: 1,06-1,19), pós-procedimento (OR: 1,12) e necessidade de hemoderivados (OR: 1,16).
Ao avaliar as novas hospitalizações, o grupo tratado com TDC apresentou menores taxas de reinternação por todas as causas em 90 dias, especialmente relacionadas com a DTV e a insuficiência ventricular direita.
Fez-se uma análise de sensibilidade que incluiu os pacientes de risco intermediário tratados em centros com terapias endovasculares disponíveis para TEP, observando-se uma diminuição tanto na mortalidade intra-hospitalar (OR: 0,79 e IC de 95%: 0,72-0,88) como nas reinternações em 90 dias (HR: 0,74, IC de 95%: 0,71-0,78), especialmente por sangramento (HR: 0,60; IC de 95%: 0,50-0,73) e doença TEV (HR: 0,64; IC de 95%: 0,54-0,75).
Conclusões
Em síntese, os dados desta base sugerem que o tratamento com TDC em pacientes de risco intermediário a alto poderia reduzir a mortalidade intra-hospitalar e o risco de reinternação relacionada com a doença tromboembólica venosa e a insuficiência cardíaca direita. Ressalta-se, no entanto, a natureza retrospectiva do estudo e a necessidade de confirmar estes achados em estudos randomizados para fortalecer a evidência sobre os dispositivos aqui enfocados.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Catheter-based therapy for high-risk or intermediate-risk pulmonary embolism: death and re-hospitalization.
Referência: Leiva O, Alviar C, Khandhar S, Parikh SA, Toma C, Postelnicu R, Horowitz J, Mukherjee V, Greco A, Bangalore S. Catheter-based therapy for high-risk or intermediate-risk pulmonary embolism: death and re-hospitalization. Eur Heart J. 2024 Apr 4:ehae184. doi: 10.1093/eurheartj/ehae184. Epub ahead of print. PMID: 38573048.
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