Uma alternativa ao diagnóstico invasivo que está ganhando popularidade é a angiotomografia coronariana computadorizada (CCTA). Dita técnica permite avaliar a gravidade da doença coronariana (CAD) mediante protocolos específicos. Um dos seus benefícios é a capacidade de obter dados de volumetria tridimensional e de analisar as características das placas ateroscleróticas, como a calcificação, a presença de componentes necróticos, o remodelamento vascular e os fenótipos de alto risco.
Foram incluídos no estudo ISCHEMIA pacientes com isquemia moderada a severa e sem doença do tronco da coronária esquerda segundo a CCTA. Os resultados do estudo base revelaram que 79% dos pacientes apresentavam comprometimento de múltiplos vasos e 86,8% tinham comprometimento obstrutivo (≥ 50%) da artéria descendente anterior, conforme a área afetada.
O objetivo do estudo apresentado por Nurmohamed et al. foi investigar se as características tomográficas das placas coronarianas estavam associadas de maneira independente ao infarto do miocárdio ou à morte cardiovascular (desfecho primário), bem como ao conjunto de eventos cardiovasculares maiores (MACE).
Os dados tomográficos do ISCHEMIA foram levantados através de uma análise do core-lab. A interpretação da CCTA foi feita com a utilização de uma análise semiautomática com inteligência artificial (AI) (AI-QCT, Cleerly) e redes neuronais (VGG19 network, 3D U-Net e VGG Network Variant).
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Para a análise multivariada foram utilizados três modelos: o modelo 1 com variáveis clínicas, o modelo 2 que acrescentou o comprometimento de vasos determinado por AI-QCT e o modelo 3, que incluiu as variáveis das placas. A população do estudo esteve composta por 3711 pacientes, com uma idade média de 64 anos, dentre os quais 79% eram homens, 13% fumantes ativos e 41% diabéticos. O seguimento médio foi de 3,3 anos, durante os quais 372 pacientes sofreram um infarto agudo do miocárdio ou morte cardiovascular.
A média de volume de placa aterosclerótica (VPA) foi de 494 mm³ e o volume de placa não calcificada (NCVPA) foi de 292 mm³. Segundo a avaliação tomográfica com AI, 77% dos pacientes apresentavam estenose de ≥ 50% em ao menos um vaso, 25% tinham doença em dois vasos e 14% em três vasos ou no tronco da coronária esquerda.
Os parâmetros que mais se associaram com o desfecho primário foram o VPA (HR 1,60; IC 95% 1,42–1,81; p < 0,001) e a doença difusa (HR 1,47; IC 95% 1,32-1,65; p < 0,001). Depois de ajustar por características clínicas, a presença de doença em um só vaso, determinada por AI, resultou em um aHR de 1,12 (IC 95% 0,83–1,53) para o desfecho primário, ao passo que o comprometimento dos vasos mostrou um risco de aHR de 1,57 (IC 95% 1,15–2,15) e a doença de três vasos um aHR de 2,17 (IC 95% 1,56–3,02; p = 0,001).
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Posteriormente foi avaliado o valor prognóstico dos modelos em 6 meses de seguimento, mostrando que o modelo clínico teve uma área abaixo da curva (AUC) de 0,637 (IC 95% 0,592–0,682), que melhorou a 0,670 com a adição de AI-QCT (IC 95% 0,627–0,714). Ao acrescentar os dados de características da placa, o valor discriminativo não mudou significativamente, com uma AUC de 0,688 (IC 95% 0,641–0,735).
Conclusões
A carga aterosclerótica, medida conforme o volume de placa e o número de vasos comprometidos, associou-se de maneira independente a um aumento no risco de morte cardiovascular ou infarto do miocárdio. A incorporação de parâmetros obtidos por inteligência artificial melhorou parcialmente o rendimento diagnóstico segundo os modelos analisados.
Título Original: Atherosclerosis quantification and cardiovascular risk: the ISCHEMIA trial.
Referência: Nurmohamed NS, Min JK, Anthopolos R, et al. Atherosclerosis quantification and cardiovascular risk: the ISCHEMIA trial. Eur Heart J. Published online August 5, 2024. doi:10.1093/eurheartj/ehae471.
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