O que devemos fazer com as lesões coronarianas significativas no TAVI?

A estenose aórtica e a doença coronariana compartilham fatores de risco, o que provoca a coexistência de lesões significativas em aproximadamente 50% dos casos, especialmente em pacientes de idade avançada. 

No contexto cirúrgico, a abordagem é clara. No caso do TAVI, no entanto, a evidência não é concludente, já que contamos com um único estudo randomizado e com alguns registros que oferecem informação nem sempre concordante. 

O estudo NOTION 3 (randomizado, aberto e de superioridade) incluiu 455 pacientes com estenose aórtica severa e doença coronariana (lesão significativa em um vaso de mais de 2,5 mm com um FFR < 0,80 ou lesão ≥ 90% segundo avaliação visual na angiografia). Dentre eles, 227 foram submetidos a angioplastia coronariana (ATC) e 228 a tratamento conservador (TC). 

O desfecho primário (DP) foi a combinação de morte por qualquer causa, infarto do miocárdio ou revascularização de urgência. 

Os grupos apresentavam características similares: idade média de 81 anos, um terço eram mulheres, um escore STS de 3% e uma fração de ejeção de 60%. Não foram observadas diferenças no que se refere à prevalência de ATC, infarto, CRM, diabetes, AVC, fibrilação atrial, doença vascular periférica ou DPOC. 

Leia também: ESC 2024 | Ensaio NOTION 3: Angioplastia coronariana em pacientes com plano de implante percutâneo da valva aórtica.

O escore de SYNTAX médio foi de 9. A ATC foi levada a cabo antes do TAVI em 74% dos casos, durante o TAVI em 17% e com menor frequência depois do procedimento. 60% das válvulas utilizadas foram autoexpansíveis, ao passo que o resto foram balão-expansíveis. 

Em dois anos de seguimento o DP favoreceu a ATC (26% vs. 36%, com uma razão de risco [hazard ratio] de 0,71; intervalo de confiança [IC] de 95%: 0,51 a 0,99; p = 0,04). Não foram constatadas diferenças significativas em termos de mortalidade por qualquer causa, mortalidade cardiovascular, infarto do miocárdio ou revascularização de urgência nem em termos de hemorragias maiores ou menores, trombose do stent ou insuficiência renal. 

Conclusão

Em pacientes com doença coronariana que foram submetidos a TAVI, a ATC se associou a um menor risco de morte por qualquer causa, infarto do miocárdio ou revascularização de urgência em seguimento de dois anos. 

Título Original: PCI in Patients Undergoing Transcatheter Aortic-Valve Implantation. NOTION 3 Trial.

Referência: J. Lønborg, R. Jabbari, et al. NEJM.org. DOI: 10.1056/NEJMoa2401513.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Dr. Carlos Fava
Dr. Carlos Fava
Membro do Conselho Editorial da solaci.org

Mais artigos deste autor

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...

É realmente necessário monitorar todos os pacientes após o TAVI?

Os distúrbios de condução (DC) posteriores ao implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) constituem uma complicação frequente e podem incidir na necessidade de um...

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

Valvoplastia aórtica radial: vale a pena ser minimalista?

A valvoplastia aórtica com balão (BAV) foi historicamente empregada como estratégia de “ponte”, ferramenta de avaliação ou inclusive tratamento paliativo em pacientes com estenose...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...