A insuficiência mitral (IM) secundária severa está associada com um aumento nas hospitalizações e na mortalidade. Embora o tratamento médico ótimo com doses toleradas segundo os guias atuais e a terapia de ressincronização tenha demonstrado ser benéfico, existe um grupo de pacientes que, apesar de dita estratégia, deve ser submetido a cirurgia.
Como se observou no estudo COAPT, o tratamento borda a borda (TEER) mostrou ser uma boa opção em pacientes de alto risco, embora não tenham sido vistos os mesmos resultados no estudo MITRA-FR. Apesar das múltiplas explicações formuladas, a evidência continua sendo pouco concludente.
O estudo RESHAPE-HF2 incluiu 505 pacientes com insuficiência mitral moderada ou severa e sintomática devido à insuficiência cardíaca. Dentre eles, 250 foram submetidos a TEER com MitraClip, além de tratamento médico com as doses máximas toleradas segundo os guias atuais (TM). Os outros 255 pacientes receberam somente TM.
O desfecho primário (DP) foi uma combinação que incluiu a primeira ou recorrente hospitalização por insuficiência cardíaca, morte cardiovascular dentro dos 24 meses e mudanças na qualidade de vida (médios pelo KCCQ-OS).
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Os grupos tiveram características similares: a idade média foi de 70 anos, 80% da população esteve composta por homens, 35% da mesma tinha diabetes, aproximadamente 50% padecia de hipertensão, mais de 50% tinha sofrido um infarto, 48% tinha sido tratada com ATC, 26% com CRM e 48% apresentava fibrilação atrial. A maioria se encontrava em classe funcional III-IV do NYHA e 66% tinha sido hospitalizada por insuficiência cardíaca no ano prévio. O NT-proBNP médio foi de 2700 pg/ml, a distância média no teste da caminhada de 6 minutos foi de 300 metros e o escore KCCQ-OS foi de 43.
A fração de ejeção média foi de 32%, o volume telessistólico médio foi de 200 ml, o volume regurgitante foi de 35 ml, a área regurgitante efetiva foi de 23 mm² e 55% dos pacientes tinham IM de grau 3+, ao passo que 44% apresentavam IM de grau 4+.
Após o procedimento, 93% dos pacientes apresentou uma IM de grau 1+ ou 2+.
Em 24 meses, o DP favoreceu o uso do dispositivo, com uma taxa de hospitalização inicial ou recorrente por insuficiência cardíaca e morte cardiovascular de 37% no grupo TEER vs. 58,9% no grupo tratado com somente TM (HR 0,64, IC 95%: 0,48-0,85; p = 0,002). A taxa de hospitalização inicial ou recorrente foi de 26,9% no grupo TEER vs. 46,6% no grupo TM (HR 0,59, IC 95%: 0,42-0,82; p = 0,002). Além disso, a mudança na qualidade de vida (KCCQ-OS) foi significativamente melhor no grupo TEER, com um aumento de 21,6 pontos vs. 8 pontos no grupo TM (diferença de 10,9, IC 95%: 6,8-15,0; p < 0,001).
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Em 12 meses os pacientes tratados com o dispositivo apresentaram menor IM (≤ 2+), percorreram uma maior distância no teste da caminhada de 6 minutos e mostraram uma melhor classe funcional (I-II), embora não tenha sido observada diferença em termos de mortalidade.
Conclusão
Os pacientes com insuficiência moderada ou severa que receberam tratamento médico e TEER mostraram uma menor taxa de hospitalização inicial ou recorrente em 24 meses e uma melhor qualidade de vida em 12 meses em comparação com aqueles que receberam somente tratamento médico.
Título original: Transcatheter Valve Repair in Heart Failure with Moderate to Severe Mitral Regurgitation. RESHAPE-HF2 Trial.
Referência: S.D. Anker, et al. NEJM.org. DOI: 10.1056/NEJMoa2314328.
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