Estenose aórtica severa com gradientes baixos a pesar de função ventricular conservada

Título Original: Invasive Hemodynamic Characteristics of Low Gradient Severe Aortic Stenosis Despite Preserved Ejection Fraction. Referência: Juliane Lauten et al. J Am Coll Cardiol 2013;61:1799–808.

A fisiopatologia, clínica e evolução natural da estenose aórtica severa (EAo s) tem sido extensamente descrita, porém as recomendações para seu manejo continuam evolucionando. As guias Europeias e Americanas atuais recomendam um ponto de corte de 1 cm² de área valvular ou indexado por superfície corporal de 0.6 cm²/m² mais um gradiente médio ≥ 40 mmHg para identificar uma estenose aórtica como severa na presença de função ventricular conservada. Porém, um grupo considerável de pacientes (ptes) com função ventricular conservada apresentam EA (estenose aórtica) ou a julgar pela área, moderada (ou incluso leve) pelo gradiente transvalvular. Dado que a medição é realizada, na maioria das vezes, mediante ecografia, estes casos de gradientes baixos com área

Analisaram-se 58 ptes com área valvular ≤1 cm², gradiente médio ≤ 40 mmHg e fração de ejecção ≥50% por ecografia nos que foi realizada uma avaliação hemodinâmica invasiva cruzando em forma retrógrada a válvula aórtica e calculando a área da mesma, com a fórmula de Gorlin (o volume minuto foi medido tanto por termo diluição como por oximetrias em todos os ptes). O volume minuto medido por termo diluição resultou significativamente mais alto que medido por oximetrias (p<0.0001), dada essa diferença compararam-se contra a ecografia as medições por ambos métodos.

Nesta população a área por ecografia (0.8 ± 0.15 cm²) apresentou uma concordância modesta em comparação com a medição invasiva utilizando oximetria para o volume minuto (0.69 ± 0.16 cm2, viés 0.14 ± 0.17 cm2) ou utilizando termo diluição (0.85 ± 0.19 cm2, viés 0.03 ± 0.19 cm2). Os gradientes médios resultaram muito similares com diferenças não significativas (32 ± 7 mm Hg vs. 31 ± 6 mm Hg; viés 0.08 ± 7.8 mm Hg). A reclassificação à estenose moderada por hemodinâmica ocorreu em um pte quando se utilizou oximetria, e em 6 ptes utilizando termo diluição.

Conclusão: 

A ocorrência de estenose aórtica severa com gradientes baixos, a pesar de função ventricular conservada, está confirmada por hemodinâmica, e não resultou de um viés sistemático da ecografia no cálculo de orifício valvular.

Comentário editorial: 

Se bem que ambos métodos têm limitações, e a correlação para o cálculo da área é modesta, a reclassificação dos pacientes, que seria eventualmente o que mudaria a terapêutica, é pouco frequente especialmente se são utilizadas oximetrias para o cálculo do volume minuto. 

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