Controle glicêmico e risco de novas revascularizações

A associação entre o controle glicêmico após uma angioplastia coronariana e os resultados da mesma são controvertidos em muitos trabalhos. Chegamos a pensar que o risco está no fato de ser diabético, como se fosse um fator não modificável. Também chegamos a acreditar que o controle da glicemia pode influir nas complicações microvasculares, mas pouco pode fazer sobre o stent que acabamos de implantar. Dessa forma, perdemos a oportunidade de dar conselhos adequados para melhorar o prognóstico de nossos pacientes.

Este trabalho incluiu 980 pacientes com diabete mellitus tipo 2 que foram submetidos a uma angioplastia coronariana com stents farmacológicos. Tomando como base os níveis de hemoglobina A glicada (HbA1c) em 2 anos, os pacientes foram divididos em 2 grupos: aqueles com níveis HbA1c < 7 (n = 489) e HbA1c ≥ 7 (n = 491). Utilizou-se propensity score, que deixou 322 pares de pacientes com iguais características basais, com a exceção, logicamente, do nível de glicemia.

 

O desfecho primário se compôs de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares maiores (MACCE), definidos como uma combinação de morte cardíaca, infarto agudo do miocárdio, revascularização repetida e AVC.


Leia também: “EVOLVE II: Diabetes substudy: resultados de 3 anos do stent SYNERGY em diabéticos”. 


A incidência de MACCE em 7 anos (média de seguimento de 5,4 anos) foi significativamente menor para aqueles com HbA1c < 7 em comparação com os que apresentaram a taxa em questão acima desse valor (26,9% vs. 40,3%; HR 0,75; IC 95%, 0,57–0,98; p = 0,03). A diferença persistiu após todos os ajustes.

 

Tal diferença de eventos esteve fundamentalmente conduzida pela taxa de revascularização repetida (19,9% vs. 29,5%; HR, 0,66; IC 95%, 0,47–0,93; p = 0,02).

 

Na análise de subgrupos, o benefício do controle glicêmico foi muito maior para aqueles que após a angioplastia ficaram com um SYNTAX residual maior.


Leia também: “FFR para guiar a revascularização de vasos não culpados na angioplastia primária”.


Conclusão

Uma hemoglobina glicada < 7 após uma angioplastia coronariana em pacientes diabéticos tipo 2 se associa a uma redução de eventos combinados, fundamentalmente uma redução de revascularização repetida.

 

Comentário editorial

No presente estudo ficou claro que o controle glicêmico tem impacto nos eventos, fundamentalmente reduzindo a taxa de nova revascularização. Embora os stents farmacológicos de nova geração tenham melhorado os resultados – quando comparados com os de primeira geração –, a diabete continua sendo um dos fatores de risco mais importantes para a reestenose. Há, inclusive, trabalhos com pacientes diabéticos que receberam stents farmacológicos de nova geração que falharam em reduzir a reestenose comparados com os stents farmacológicos de primeira geração.

 

Pelo anteriormente relatado, não se pode desperdiçar nenhuma oportunidade para reduzir a reestenose em pacientes diabéticos e este trabalho representar uma ferramenta mais nesse sentido.

 

Título original: Glycemic Control Status After Percutaneous Coronary Intervention and Long-Term Clinical Outcomes in Patients With Type 2 Diabetes Mellitus.

Referência: Jin Kyung Hwang et al. Circ Cardiovasc Interv. 2017;10:e004157.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

AHA 2024 | SUMMIT

Foi previamente demonstrado que o tratamento farmacológico para a obesidade (semaglutida) pode reduzir eventos cardiovasculares em pacientes com insuficiência cardíaca (IC) com fração de...

AHA 2024 – BPROAD

A hipertensão arterial (HTA) é a comorbidade mais frequente em pacientes com diabetes e se associa a um maior risco cardiovascular, sendo também o...

Doença coronariana em estenose aórtica: dados de centros espanhóis em cirurgia combinada vs. TAVI + angioplastia

O implante valvar percutâneo (TAVI) demonstrou em múltiplos estudos randomizados uma eficácia comparável ou superior à da cirurgia de revascularização miocárdica (CRM). No entanto,...

Evolução das válvulas balão-expansíveis pequenas

Os anéis aórticos pequenos (20 mm) têm se constituído em um verdadeiro desafio, tanto em contexto de cirurgia como em implante percutâneo da valva...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

TAVI e insuficiência aórtica: as válvulas são todas iguais?

A insuficiência aórtica (IAO) representa entre 0,5% e 2,2% das afecções valvares em pessoas de mais de mais de 65 anos.  De acordo com os...

Resultados do acompanhamento de 1 ano do registro TAVI com a utilização de válvulas balão-expansíveis de 5ª geração nos EUA

A utilização da estratégia de substituição de válvula aórtica transcateter (TAVR) se estendeu a pacientes com estenose aórtica (EAo) severa de baixo risco e...

Registro EuroSMR: Tratamento mitral borda a borda com seguimento de 5 anos

As miocardiopatias e o engrandecimento do átrio esquerdo podem levar à insuficiência mitral secundária (IMS). Dita condição se associa com uma deterioração da função...