Os pacientes com um infarto com supradesnivelamento do segmento ST em curso que são submetidos a angioplastia primária apresentam um alto risco, tanto de eventos isquêmicos como hemorrágicos, e ambos afetam significativamente a morbidade e a mortalidade. A seleção ótima de antitrombóticos em termos de potência e duração deve levar em conta o momento do processo, já que o risco de ambas as complicações pode variar com o tempo.
No estudo HORIZON-AMI (Harmonizing Outcomes with Revascularization and Stents in Acute Myocardial Infarction) foram incluídos 3.602 pacientes e todos os eventos isquêmicos e hemorrágicos foram classificados de acordo com o momento em que se apresentaram: agudos (≤ 24 horas após a angioplastia), subagudos (de 1 a 30 dias) ou tardios (entre 30 dias e um ano). Todos os pacientes receberam aspirina e clopidogrel por um ano. Os eventos isquêmicos incluíram morte cardíaca, reinfarto e trombose definitiva. Os eventos hemorrágicos foram todos os sangramentos maiores e menores não relacionados à cirurgia de revascularização miocárdica.
Leia também: “A complexidade da angioplastia pode definir o tempo de dupla antiagregação”.
Ambos os riscos diminuíram exponencialmente à medida que o tempo foi passando (p < 0,001). Na fase aguda, a chance de sangramento e trombose foi similar, mas na fase subaguda o risco de sangramento foi maior. Após o primeiro mês e até um ano (fase tardia) o risco isquêmico excedeu acentuadamente o risco de sangramento (p < 0,001).
Conclusão
Tanto o risco de trombose quanto o de sangramento diminuíram significativamente com o transcorrer do tempo após uma angioplastia primária. Embora o risco de sangramento seja maior a princípio, após 30 dias o risco isquêmico o excede significativamente, o que favorece a ideia de continuar com a dupla antiagregação por um ano.
Comentário editorial
Muitos eventos trombóticos ocorreram com a suspensão da antiagregação após um sangramento, e muitos eventos hemorrágicos foram consequência do aumento da dose ou de drogas antiagregantes e antitrombóticas após um evento isquêmico. No entanto, tal inter-relação foi menor que a esperada e a maioria dos eventos foram independentes em termos temporais.
O trabalho tem várias limitações:
- Por um lado, foram utilizados somente stents farmacológicos de primeira geração, o que com certeza afetou a taxa de tromboses.
- Não houve um ramo que tenha utilizado somente heparina, que é o mais frequente na prática cotidiana atual de nosso meio.
- Mais de 90% dos procedimentos foram feitos por acesso femoral, o que com certeza afetou a taxa de sangramento.
Título original: Characterization of the Average Daily Ischemic and Bleeding Risk After Primary PCI for STEMI.
Referência: Gennaro Giustino et al. J Am Coll Cardiol 2017;70:1846–57.
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