ESC 2019 | Quão benigna é a estenose aórtica moderada?

Este grande registro australiano com seguimento de 5 anos e quase 250.000 pacientes apresentado no ESC de Paris e simultaneamente publicado no J Am Coll Cardiol sugere que a mortalidade da estenose aórtica severa é similar à da estenose aórtica moderada. Este dado nos alerta sobre o perigo que implica a estenose moderada e mostra-nos que a mesma não é tão benigna como acreditávamos.

O registro mostrou uma mortalidade de 67% em 5 anos nos pacientes com estenose aórtica severa (tanto com gradientes altos como baixos) e de 56% para os que tinham estenose aórtica moderada. Esta totalidade é muito maior do que a que mostravam os estudos observacionais precedentes.

Estes resultados teriam que nos fazer repensar a forma de manejar os pacientes com um gradiente médio de 20 mmHg e uma velocidade pico de 3 m/seg. No entanto, o mais provável é que haja subgrupos entre os indivíduos com estenose aórtica moderada que progridem mais rapidamente que outros. Estes dados ainda não estão claros e devemos ser prudentes antes de mudar nossa prática clínica.

Para o registro considerou-se ausência de estenose aórtica um gradiente < 10 mmHg e uma velocidade pico < 2 m/seg., estenose aórtica leve um gradiente entre 10-19,9 mmHg de gradiente e uma velocidade pico de 2-2,9 m/seg., estenose aórtica moderada um gradiente entre 20-39,9 mmHg e velocidade pico de 3;3,9 m/seg. e uma área > 1cm² e estenose aórtica severa de alto gradiente um valor > 40 mmHg de gradiente ou uma velocidade >4 m/seg. com uma área ≤ 1 cm² ou de baixo gradiente uma área ≤ 1 cm².


Leia também: ESC 2019 | CLARIFY: Los síntomas predicen riesgo solamente en pacientes con infarto previo.


Na análise observou-se que à medida que aumenta a velocidade pico, aumenta o gradiente e diminui a área valvar há um incremento da mortalidade. No entanto, não há diferenças significativas entre os pontos de corte para estenose aórtica moderada e estenose aórtica severa.

Muitos dos pacientes que apresentam estenose aórtica moderada falecem por outras comorbidades, motivo pelo qual não necessariamente necessitam receber um tratamento agressivo para a doença valvar. A outra explicação para a falta de diferença em termos de mortalidade poderia ser o fato de no início alguns casos do registro terem sido qualificados como estenose moderada e durante o seguimento terem progredido para severa com o conseguinte risco.

As diretrizes atuais do ACC/AHA recomendam um seguimento de perto com ecocardiogramas anuais à espera de uma eventual progressão da estenose aórtica moderada, ainda que isso talvez não seja suficiente para alguns pacientes.

Título original: Poor long-term survival in patients with moderate aortic stenosis.

Referência: Strange G et al. J Am Coll Cardiol. 2019; Epub ahead of print.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...

É realmente necessário monitorar todos os pacientes após o TAVI?

Os distúrbios de condução (DC) posteriores ao implante percutâneo da valva aórtica (TAVI) constituem uma complicação frequente e podem incidir na necessidade de um...

Valvoplastia aórtica radial: vale a pena ser minimalista?

A valvoplastia aórtica com balão (BAV) foi historicamente empregada como estratégia de “ponte”, ferramenta de avaliação ou inclusive tratamento paliativo em pacientes com estenose...

Fibrilação atrial após oclusão percutânea do forame oval patente: estudo de coorte com monitoramento cardíaco implantável contínuo

A fibrilação atrial (FA) é uma complicação bem conhecida após a oclusão do forame oval patente (FOP), com incidência relatada de até 30% durante...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...