As dissecções espontâneas são uma causa de infarto agudo do miocárdio que está crescendo em número, especialmente entre as mulheres jovens. Esses infartos são frequentemente tratados de forma conservadora devido aos riscos que implica a revascularização pela possibilidade de estender a dissecção tanto em termos retrógrados quanto anterógrados.
Dada a incerteza que existe sobre o tratamento nesses casos, realizou-se este trabalho (publicado recentemente no J Am Coll Cardiol), comparando diferentes estratégias no contexto de um infarto com supradesnivelamento do segmento ST devido a uma dissecção espontânea e cotejando os resultados com os infartos por aterosclerose.
Registraram-se todos os infartos com supradesnivelamento do segmento ST entre 2003 e 2017 e fez-se o seguimento por um período de 3 anos.
Dos 5.208 pacientes que ingressaram cursando um infarto, em 1% a causa foi uma dissecção espontânea com maioria absoluta de mulheres (93%). A prevalência sobe de 1% a quase 20% se considerarmos somente as mulheres com menos de 50 anos.
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Além de esses infartos serem mais frequentes em mulheres jovens, também se apresentaram muito mais comumente em choque cardiogênico do que por aterosclerose (19% vs. 9%. P < 0,03).
A artéria responsável pelo infarto foi muito mais frequentemente o tronco da coronária esquerda (13% vs. 1% em ateroscleróticos; p = 0,003) seguida da descendente anterior (47% vs. 38%; p = 0,003).
Apesar de se apresentar em pacientes jovens, de a artéria culpada ser o tronco da coronária esquerda e de ser mais frequente o choque cardiogênico, a taxa de revascularização foi significativamente mais baixa que nos infartos “convencionais” (70% vs. 97%; p < 0,0001).
Para aqueles pacientes que receberam revascularização, o mais frequente foi a angioplastia primária e houve uma pequena porcentagem de cirurgia. O sucesso da angioplastia primária foi de 91%.
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Como era de se esperar, os pacientes que receberam uma estratégia de revascularização foram aqueles que estavam em estado mais grave (tronco da coronária esquerda envolvido, choque cardiogênico, fluxo TIMI 0 ou 1).
Apesar do anteriormente afirmado, a sobrevida em 3 anos foi superior à dos infartos comuns (98% vs. 84%; p < 0,0001).
Conclusão
Os infartos com supradesnivelamento do segmento ST devido a uma dissecção coronariana espontânea representam um número não depreciável e caracterizam-se por envolver mulheres jovens e por comprometer o tronco da coronária esquerda ou a descendente anterior proximal, o que leva a uma maior taxa de choque cardiogênico que os infartos ocasionados por aterosclerose. A angioplastia primária tem uma alta taxa de sucesso e a sobrevida em 3 anos é muito superior à dos infartos comuns.
Título original: Revascularization in Patients With Spontaneous Coronary Artery Dissection and ST-Segment Elevation Myocardial Infarction.
Referência: Angie S. Lobo et al. J Am Coll Cardiol 2019;74:1290–300.
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