Segundo este trabalho que proximamente será publicado no Eur Heart J, administrar a medicação anti-hipertensiva à noite poderia reduzir o risco de eventos cardiovasculares. Contudo, apesar de mostrar uma significativa redução do risco, os resultados aqui relatados têm que poder ser reproduzidos antes de adotarmos esta conduta de forma padronizada.
Tomar as medicações prescritas antes de ir dormir poderia permitir que o corpo siga mais naturalmente seu ciclo circadiano, o que potencializaria os efeitos da terapêutica, melhorando o controle da pressão arterial e, consequentemente, diminuindo os eventos cardiovasculares.
Este é, sem dúvida, o maior trabalho já realizado para avaliar o momento do dia para administrar a medicação e é, além disso, o que tem o seguimento mais longo. Foi realizado em vários centros de atenção primária e, portanto, deveria refletir a prática clínica diária.
O Hygia Chronotherapy Trial randomizou mais de 19.000 hipertensos a tomar suas medicações (bloqueadores do receptor de angiotensina, inibidores da enzima de conversão, bloqueadores cálcicos, betabloqueadores e/ou diuréticos) de manhã logo depois de se levantarem vs. à noite, antes de se deitarem para dormir.
Após um seguimento médio de 6,3 anos, aqueles pacientes que tomaram a medicação antes de dormir tiveram um melhor controle da pressão sistólica e diastólica.
Além disso, um grupo muito menor dos pacientes que receberam a medicação antes de ir dormir foi qualificado como “nondipper” (queda da pressão média inferior a 10% enquanto dorme) que os que a receberam de manhã (37% vs. 50%; p = 0,001).
Por último, o mais importante de tudo isso é que aqueles pacientes que receberam a medicação à noite diminuíram em 45% o risco do desfecho primário combinado de morte cardiovascular, infarto agudo do miocárdio, revascularização coronariana, insuficiência cardíaca e qualquer AVC (p < 0,001).
Um dos dados que este trabalho deixa como incógnita é que administrar a medicação durante a noite não modificou as cifras de tensão arterial enquanto os pacientes estavam despertos em comparação com o grupo medicado de manhã.
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Para alguns especialistas parece difícil explicar que conseguir reduzir as cifras de tensão arterial apenas durante o sono se traduza em semelhante redução de eventos. Uma hipótese – que requer validação – poderia ser que a redução da tensão arterial durante as horas do sono tenha um efeito pleitrópico que excede a redução das cifras em si.
Título original: Bedtime hypertension treatment improves cardiovascular risk reduction: the Hygia Chronotherapy Trial.
Referência: Hermida RC et al. Eur Heart J. 2019; Epub ahead of print.
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