Infartos com choque cardiogênico: múltiplos vasos vs. somente vaso culpado: há novidades?

Durante quase 20 anos ninguém discutiu o Shock Trial, estudo que marcou a prática de revascularizar as lesões nos infartos com supradesnivelamento do segmento ST e choque cardiogênico. 

Infartos en Shock: Múltiples vasos vs solo vaso culpable ¿Hay novedades?

No Congresso TCT de 2017 (e também no NEJM) foi apresentado o estudo CULPRIT-SHOCK, que também modificou completamente a estratégia, já que voltamos a tratar somente o vaso culpado (pelo menos como primeira intenção) nos infartos com choque cardiogênico. 

Agora, mais novidades surgem da base de dados de infartos com choque cardiogênico, dado que faltava evidência dos pacientes nos quais era utilizado suporte circulatório mecânico. 

Entre julho de 2016 e dezembro de 2019 foram incluídos todos os pacientes admitidos cursando um infarto com choque cardiogênico de 57 hospitais participantes do registro. 

Os pacientes com doença de múltiplos vasos foram analisados de acordo com o fato de terem recebido revascularização completa ou somente do vaso culpado durante o procedimento índice. 


Leia também: Subestudo do Compare-Acute: história natural das lesões não culpadas pelo infarto.


De 198 pacientes com doença de múltiplos vasos 126 receberam angioplastia de múltiplos vasos durante o procedimento índice (64%) e 72 somente no vaso culpado (36%). As características basais dos dois grupos foram similares no que se refere à idade, sexo, diabetes, angioplastia prévia, cirurgia de revascularização prévia ou infarto prévio. 

Aqueles que receberam angioplastia em múltiplos vasos mostraram um pior volume minuto e mais níveis de lactato 12 horas após o procedimento. No entanto, após as 24 horas ditas diferenças se equipararam entre os grupos. 

A sobrevida (69,8% vs. 65,3%; p = 0,51) e a taxa de injúria renal aguda foram similares entre os grupos (29,9% vs. 34,2%; p = 0,64). Ditos desfechos, especialmente a mortalidade, tinham sido os fatores que inclinaram a balança no CULPRIT-SHOCK a favor de tratar somente o vaso culpado. 


Leia também: Estimando o risco de infecção no pessoal de saúde.


A diferença neste trabalho foi o uso precoce do dispositivo de suporte circulatório mecânico (Impella) em ambos os grupos. De fato, mais de 70% dos pacientes receberam o dispositivo antes de começar a angioplastia e os restantes receberam-no durante o procedimento e após o seu término. 

O uso do Impella poderia explicar os diferentes resultados deste trabalho e os do CULPRIT-SHOCK. 

Conclusão

Os pacientes com doença de múltiplos vasos admitidos cursando um infarto com choque cardiogênico que recebem precocemente suporte circulatório mecânico podem receber revascularização completa seletiva no procedimento índice com uma taxa de mortalidade e injúria renal similar aos que recebem angioplastia somente no vaso culpado. 

Título original: Multi- Versus Culprit-Vessel Percutaneous Coronary Intervention in Cardiogenic Shock.

Referência: Alejandro Lemor et al. J Am Coll Cardiol Intv 2020, article in press. doi: 10.1016/j.jcin.2020.03.012.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Sua opinião nos interessa. Pode deixar abaixo seu comentário, reflexão, pergunta ou o que desejar. Será mais que bem-vindo.

Mais artigos deste autor

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

AHA 2025 | TUXEDO-2: manejo antiagregante pós-PCI em pacientes diabéticos multivaso — ticagrelor ou prasugrel?

A escolha do inibidor P2Y12 ótimo em pacientes diabéticos com doença multivaso submetidos a intervenção coronariana percutânea (PCI) se impõe como um desafio clínico...

AHA 2025 | DECAF: consumo de café vs. abstinência em pacientes com FA — recorrência ou mito?

A relação entre o consumo de café e as arritmias tem sido objeto de recomendações contraditórias. Existe uma crença estendida de que a cafeína...

AHA 2025 | Estudo OCEAN: anticoagulação vs. antiagregação após ablação bem-sucedida de fibrilação atrial

Após uma ablação bem-sucedida de fibrilação atrial (FA), a necessidade de manter a anticoagulação (ACO) a longo prazo continua sendo incerta, especialmente considerando que...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Assista novamente: Embolia Pulmonar em 2025 — Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas

Já está disponível para assistir o nosso webinar “Embolia Pulmonar em 2025: Estratificação de Risco e Novas Abordagens Terapêuticas”, realizado no dia 25 de...

Um novo paradigma na estenose carotídea assintomática? Resultados unificados do ensaio CREST-2

A estenose carotídea severa assintomática continua sendo um tema de debate diante da otimização do tratamento médico intensivo (TMO) e a disponibilidade de técnicas...

Remodelamento cardíaco após a oclusão percutânea da CIA: imediato ou progressivo?

A comunicação interatrial (CIA) é uma cardiopatia congênita frequente que gera um shunt esquerda-direita, com sobrecarga de cavidades direitas e risco de hipertensão pulmonar...