Aproximadamente um terço dos pacientes hospitalizados por COVID-19 têm algum grau de injúria miocárdica, o que se relaciona com um incremento da mortalidade em comparação com os pacientes que não apresentam elevação das troponinas.
Mesmo as formas leves de injúria miocárdica – como poderia ser uma elevação de troponinas de entre 0,03 e 0,09 ng/mL – associam-se a quase o dobro de mortalidade (HR: 1.,75; IC 95% 1,37-2,24).
Nos pacientes com maior injúria (troponinas acima de 0,09 ng/mL) a mortalidade chega a ser três vezes maior (HR 3,03; IC 95% 2,42-3,80).
Este recente estudo observacional que proximamente será publicado no JACC incluiu 3069 pacientes com diagnóstico de COVID-19 hospitalizados em Nova York.
O objetivo do estudo foi compreender melhor a prevalência das elevações de troponina e seu impacto no prognóstico.
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Mais de 90% dos pacientes tiveram ao menos uma medição de troponina I no período até as 24 horas da admissão. Dentre eles, 455 apresentaram elevações leves (0,03-0,09 ng/mL) e 530 tiveram elevações significativas (> 0,09 ng/mL).
Mais de um terço dos pacientes com elevações significativas tinham diagnóstico de doença coronariana prévia. A fibrilação atrial e a insuficiência cardíaca também foram prevalentes entre os pacientes com aumentos significativos de troponina I.
Quanto maior a idade, maior o índice de massa corporal e quanto maior a severidade da doença, maior a mortalidade. Depois de fazer o ajuste por todas a covariáveis, a elevação de troponinas continuou sendo uma clara indicador de pior prognóstico.
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Uma das limitações deste trabalho é que, além da medição de troponinas, não foram feitos outros estudos cardíacos, nem sequer um eletrocardiograma de 12 derivações.
Com esta informação podemos dizer que a elevação de troponinas é um marcador prognóstico, mas é difícil especular sobre a etiologia da elevação.
A elevação poderia ocorrer no contexto da tempestade de citocinas – como ocorre com outros reagentes de fase aguda –, poderia ser injúria direta do vírus como miocardite, injúria miocárdica de causa não isquêmica por desbalanço entre oferta e demanda ou poderia se tratar de síndromes coronarianas agudas comuns provocadas pela inflamação.
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A história sobre a pandemia por COVID-19 está sendo escrita agora e estamos aprendendo no andar da carruagem.
Título original: Prevalence and impact of myocardial injury in patients hospitalized with COVID-19 infection.
Referencia: Lala A et al. J Am Coll Cardiol. 2020; Epub ahead of print. doi: 10.1101/2020.04.20.20072702.
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