O antecessor deste trabalho, o RIPCORD, publicado em 2014, mostrou que o uso do FFR modifica a estratégia de tratamento em aproximadamente 25% dos pacientes. Esse foi o momento de auge do FFR. Efetivamente, os estudos DEFER, FAME e FAME 2 apresentaram resultados em consonância com o RIPCORD original.
Os autores deste estudo contrastaram a hipótese do uso sistemático do FFR (todas as lesões > 30% por estimativa visual) no momento da angiografia de diagnóstico, não mais em lesões intermediárias que pudessem gerar dúvidas, mas em qualquer irregularidade que, observada nos vasos principais ou em qualquer ramo, pudesse ser potencialmente revascularizável (aproximadamente 2,25 mm de diâmetro).
A avaliação funcional não foi requerida em oclusões totais crônicas ou em lesões que gerassem um fluxo TIMI inferior a 3.
O trabalho incluiu 1100 pacientes que foram submetidos a uma angiografia coronária por angina estável ou infarto SEM supra em vários centros do Reino Unido.
No “braço angiografia”, a tomada de decisões se baseou somente na angiografia. Por sua vez, na estratégia com FFR foi realizada uma medição de toda a árvore coronariana para decidir (a média de medições foi de 4 vasos!). As opções de tratamento possíveis com base nos achados foram: tratamento médico, angioplastia, cirurgia de revascularização miocárdica ou necessidade de mais estudos para definição do caso.
O trabalho teve dois desfechos primários: os custos hospitalares e a qualidade de vida medida pelo escore EQ-5D. O desfecho secundário pré-especificado foi a combinação de eventos cardiovasculares.
A maioria dos pacientes apresentaram lesão de um vaso. 8,7% do braço da angiografia e 7,8% do braço da angioplastia apresentaram lesão > 50% no tronco da coronária esquerda e 17,6% e 17,3% apresentaram lesão > 70% na DA proximal, respectivamente.
Em um ano de acompanhamento não foram observadas diferenças significativas entre as duas estratégias para ambos os desfechos primários. Surpreendentemente, o FFR sistemático não aumentou os custos, mas também não melhorou a qualidade de vida.
Por sua vez, o FFR não modificou a distribuição entre tratamento médico, angioplastia ou cirurgia. Nesse sentido, recebeu tratamento médico 29,9% vs. 31,9%; angioplastia 60,9% vs. 56,2% e cirurgia 9,2% vs. 11,9% para angiografia e FFR, respectivamente.
Leia também: ESC 2021 | ACST-2: CAS vs. endarterectomia em pacientes assintomáticos.
Não foram observadas diferenças em eventos cardiovasculares maiores como morte, infarto, AVC ou revascularização não planejada.
O braço estudado com FFR de forma sistemática apresentou mais de 20 minutos extra de procedimento (42,4 vs. 69 minutos; p < 0.001), mais doses de radiação e 1,8% de dissecções das coronárias.
O braço da angiografia apresentou significativamente mais pacientes (14,7% vs. 1,8%; p < 0,0001) que requereram outro exame para definir o caso (ressonância, eco sob estresse, SPECT, repetição da angiografia com FFR ou imagens, etc.).
O quadro clínico (angina estável ou NSTEMI) não modificou eventos como morte, AVC, infarto, revascularização não planejada ou a combinação de todos.
Leia também: FLOWER-MI: FFR vs. angiografia para revascularização completa nos infartos.
O FFR rotineiro no momento da angiografia de diagnóstico não oferece nenhuma vantagem vs. somente a angiografia convencional.
A subutilização desta ferramenta na sala de cateterismo pode ser ainda maior com os resultados do RIPCORD 2, o que seria um erro.
A evidência da avaliação funcional não deveria ser questionada, mas sim ser utilizada com mais critério. Talvez não seja necessário medir absolutamente todas as lesões, mas selecionar aquelas lesões intermediárias, que são as que podem gerar mais dúvidas sobre a estratégia e também são as que mais benefício relativo oferecem.
Título original: RIPCORD 2: Does routine pressure wire assessment influence management strategy of coronary angiography for diagnosis of chest pain.
Referência: Presentado por Curzen N. en el ESC 2021 el 29 de agosto 2021.
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