Reserva de fluxo coronariano em pacientes com FFR intermediário: devemos utilizar essa ferramenta para decidir a realização da angioplastia coronariana?

As diretrizes atuais recomendam o uso de FFR para guiar as angioplastia coronarianas. No entanto, os valores intermediários de FFR (0,75-0,80) geram incertezas sobre o valor prognóstico que reveste a realização da angioplastia coronariana versus o tratamento médico ótimo

reserva fraccional de flujo sindrome coronario agudo

A utilização da Reserva de Fluxo Coronariano (CFR) junto com o FFR proporciona maior compreensão sobre a circulação coronariana devido ao fato de a CFR ser um índice que também inclui a avaliação da microcirculação. 

O objetivo deste estudo retrospectivo foi avaliar o prognóstico entre diferir vs. realizar angioplastia coronariana de acordo com o valor de CFR em pacientes com FFR intermediário. 

O desfecho foi o fracasso do vaso tratado (TVF), definido como uma combinação de morte cardiovascular, infarto relacionado ao vaso tratado e revascularização do vaso tratado guiado pela clínica. 

Dentre os 2322 pacientes do registro ILIAS (Inclusive Invasive Physiological Assessment in Angina Syndromes Registry), 400 apresentavam estenose com FFR intermediário e foram incluídos no estudo. A angioplastia coronariana foi diferida em 210 pacientes (grupo diferido) ao passo que foi realizada em 190 pacientes (grupo angioplastia realizada). Além disso, foram estratificados de acordo com o valor da CFR em CFR preservada (> 2) e CFR diminuída (≤2). 

A idade média foi de 60 anos. A forma de apresentação clínica mais frequente foi angina instável. A artéria descendente anterior foi a mais frequentemente tratada. Segundo a CFR, a angioplastia foi realizada em 38% dos casos no grupo de CFR preservada e em 61% dos casos no grupo de CFR diminuída. 

Leia também: Rivaroxabana para prevenção de trombo em ventrículo esquerdo após SCACEST.

Não houve diferenças significativas em termos de TVF entre os dois grupos no seguimento de 5 anos. No entanto, quando foram analisados a população com CFR diminuído, os pacientes do grupo diferido apresentavam maior risco de TVF quando comparados com o grupo “angioplastia realizada” (17,2% vs. 14,2%; HR: 4,932; 95% CI: 1,312-18,53; p = 0,018). Dita diferencia ocorreu a expensas de uma maior taxa de revascularização do vaso tratado (12,1% vs. 8,3%; p = 0,025).

Conclusão

Em pacientes com FFR intermediário de 0,75-0,80, o valor prognóstico da estratégia terapêutica difere segundo o valor da CFR. A angioplastia coronariana esteve associada a menor taxa de TVF quando o valor da CFR estava diminuído. Contudo, não houve diferenças em TVF em pacientes com CFR preservada

A CFR pode ser utilizada para estratificar o risco em pacientes com FFR intermediário para determinar a estratégia terapêutica. 

Dr. Andrés Rodríguez
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org .

Título Original: Differential Prognostic Value of Revascularization for Coronary Stenosis With Intermediate FFR by Coronary Flow Reserve.

Referência: Juwon Kim, MD et al J Am Coll Cardiol Intv 2022.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

Tabagismo e seu impacto na doença cardiovascular 10 anos depois de uma angioplastia coronariana

O tabagismo é um fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares ateroscleróticas. Alguns relatórios históricos sugeriram, no entanto, um menor...

Jejum vs. não jejum antes de procedimentos cardiovasculares percutâneos

Embora em 2017 as diretrizes da Sociedade Americana de Anestesiologistas tenham sido atualizadas para permitir a ingestão de líquidos claros até duas horas e...

Dissecção espontânea do tronco da coronária esquerda: características clínicas, manejo e resultados

Gentileza do Dr. Juan Manuel Pérez. A dissecção espontânea do tronco da coronária esquerda (TCE) é uma causa infrequente de infarto agudo do miocárdio (IAM),...

Pré-tratamento com DAPT em síndromes coronarianas agudas: continua sendo um debate não resolvido?

Na síndrome coronariana aguda (SCA), a terapia antiplaquetária dual (DAPT) representa um pilar fundamental após a intervenção mediante angioplastia coronariana percutânea (PCI), ao prevenir...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

Veja as melhores imagens das Jornadas Uruguai 2025

Aproveite os melhores momentos das Jornadas Uruguai 2025, realizadas no Hotel Radisson de Montevidéu (Uruguai) nos dias 7, 8 e 9 de maio de...

Tratamento percutâneo da insuficiência mitral funcional atrial

A insuficiência mitral (IM) por dilatação atrial funcional (AFMR) é uma afecção que representa aproximadamente um terço dos casos de insuficiência mitral, associando-se com...

Tabagismo e seu impacto na doença cardiovascular 10 anos depois de uma angioplastia coronariana

O tabagismo é um fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares ateroscleróticas. Alguns relatórios históricos sugeriram, no entanto, um menor...