Segurança da acetilcolina na sala de hemodinâmica

Os conceitos sobre injúria miocárdica sem lesões coronarianas obstrutivas (INOCA) e infarto do miocárdio sem lesões coronarianas obstrutivas (MINOCA) foram estabelecidos, amplamente difundidos e aceitos mediante posicionamentos assumidos e distintas diretrizes da pratica clínica. Dentre os INOCA e MINOCA encontram-se a angina vasoespástica (VSA), que é causada por espasmos de vasos epicárdicos, e a angina causada por espasmos microvasculares (MVS), sendo ambas as entidades descritas como uma etiologia nestas síndromes. 

Para o estabelecimento das causas no MINOCA, o uso de acetilcolina no estudo diagnóstico foi formulado como indicação IIA. O fato de poder adequar a terapêutica médica específica nesses casos poderia melhorar a qualidade de vida dos pacientes porque se observou um alto índice de recaídas sintomáticas. No entanto, na atualidade, seu uso gera certo temor pelo eventual aparecimento de complicações. 

O objetivo deste trabalho foi avaliar, através de uma revisão sistemática e metanálise, a segurança de um teste evocador de vasoespasmo mediante a injeção de acetilcolina intracoronariana. Definiu-se como complicação maior a combinação de morte, fibrilação/taquicardia ventricular, infarto do miocárdio ou choque que requeira reanimação. Interpretou-se como complicação menor a fibrilação atrial paroxística, extrassístoles ventriculares, hipotensão transitória ou bradicardia que requeira implante de marca-passo. 

Foram incluídos nesta metanálise um total de 16 estudos com 12.585 pacientes, a administração de acetilcolina se realizava com 10 mcg a 200 mcg na coronária esquerda e para a evolução da função endotelial usava-se uma infusão curta de 36 mcg.

Leia também: Valor prognóstico de disfunção microvascular estrutural e funcional em pacientes com doença coronariana não obstrutiva.

A incidência de complicações maiores foi de 0,5% (IC 95% 0,0-1,3%). Não houve relato de mortes. Nas análises de subgrupo observou-se que a incidência acumulada de complicações maiores foi maior naqueles estudos nos quais o ponto de corte para definir espasmos era uma obstrução ≥ 90% em comparação com o ponto de corte prévio para diagnóstico de ≥ 75% (1,0%; IC 95% 0,3-2,0%). A incidência foi significativamente menor em populações ocidentais comparadas com asiáticas (0,0%; IC 95% 0,0%-0,45%).

Por sua vez, comparando a segurança de distintas doses, tanto o índice de complicações maiores como menores foram similares ao usar as doses distintas de AC de 100 a 200 mcg. 

Conclusões

O teste de provocação com acetilcolina intracoronariana demostrou ser um procedimento seguro. Observaram-se diferenças quanto aos subgrupos, sendo a etnia ocidental a menos afetada. 

No entanto, nesta metanálise observou-se uma grande heterogeneidade nos trabalhos incluídos. Isso permite avançar no estabelecimento de programas para poder incorporar a acetilcolina (não disponível em muitos países) de maneira rotineira na sala de hemodinâmica, o que pode melhorar o diagnóstico de VSA e MVS como causas de INOCA/MINOCA. 

ar a la acetilcolina (no disponible en muchos países) de manera rutinaria en la sala de hemodinamia, lo cual puede mejorar el diagnóstico de VSA y MVS como causas de INOCA/MINOCA.

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Titulo Original: Safety of Provocative Testing With Intracoronary Acetylcholine and Implications for Standard Protocols.

Referência: Takahashi, Tatsunori et al. “Safety of Provocative Testing With Intracoronary Acetylcholine and Implications for Standard Protocols.” Journal of the American College of Cardiology vol. 79,24 (2022): 2367-2378. doi:10.1016/j.jacc.2022.03.385.


Subscreva-se a nossa newsletter semanal

Receba resumos com os últimos artigos científicos

Mais artigos deste autor

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Perfurações coronarianas e o uso de stents recobertos: uma estratégia segura e eficaz a longo prazo?

As perfurações coronarianas continuam sendo uma das complicações mais graves do intervencionismo coronariano (PCI), especialmente nos casos de rupturas tipo Ellis III. Diante dessas...

Doença de tronco da coronária esquerda: ATC guiada por imagens intravasculares vs. cirurgia de revascularização miocárdica

Múltiplos ensaios clínicos randomizados demonstraram resultados superiores da cirurgia de revascularização coronariana (CABG) em comparação com a intervenção coronariana percutânea (ATC) em pacientes com...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Artigos Relacionados

Congressos SOLACIspot_img

Artigos Recentes

COILSEAL: Utilização de coils na angioplastia coronariana: uma ferramenta de valor nas complicações?

A utilização de coils como ferramenta de oclusão vascular tem experimentado uma expansão progressiva, partindo de seu uso tradicional em neurorradiologia até incorporar-se ao...

Tratamento da reestenose intrastent em vasos pequenos com balões recobertos de paclitaxel

A doença arterial coronariana (DAC) em vasos epicárdicos de menor calibre se apresenta em 30% a 67% dos pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea...

Desafios contemporâneos na oclusão do apêndice atrial esquerdo: enfoque atualizado sobre a embolização do dispositivo

Embora a oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo seja, em geral, um procedimento seguro, a embolização do dispositivo – com uma incidência global de...