Placas carotídeas complicadas não estenosantes: uma luz no diagnóstico do AVC criptogênico?

O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e deficiência e gera uma grande morbidade ao ocasionar uma clara deterioração cognitiva pós-evento. A recorrência de um evento isquêmico pode variar de acordo com a causa do AVC. As placas carotídeas complicadas não estenosantes (PCC) tipo VI (segundo a classificação da American Heart Association) têm sido descritas como uma causa pouco reconhecida no diagnóstico de AVC. 

Placas carotídeas complicadas no estenosantes ¿una luz en el diagnóstico del ACV criptogénico?

Define-se como PCC toda placa que apresenta um cap fibroso roto, hemorragia intraplaca (HIP) ou trombose mural. Pode ser diagnosticada de forma precisa mediante a angiorressonância magnética carotídea (técnica de sangue escuro). 

A AHA as classificou em tipo I-II (espessura normal, sem calcificação), tipo III (engrossamento difuso da íntima, sem calcificação), tipo IV/V (placa com core lipídico ou necrótico rodeada de tecido fibroso com possível calcificação), tipo VI (placa complicada com defeitos na superfície ou com trombo), tipo VII (placa calcificada) e tipo VIII (placa fibrótica sem core lipídico e com calcificações pequenas). 

Na atualidade, não há estudos que que tenham avaliado sua busca nos primeiros dias pós-AVC (etapa aguda), sobretudo naqueles pacientes rotulados como AVC criptogênico. 

O CAPIAS (carotid plaque imaging in acute stroke) é um estudo observacional, prospectivo, multicêntrico, realizado na Alemanha, cujo objetivo foi definir o papel das PCC na recorrência do AVC isquêmico ou em um AIT em comparação com pacientes sim PCC. 

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Foram incluídos pacientes de mais de 49 anos, que se encontravam dentro dos 10 dias do advento de um AVC isquêmico, com um único território comprometido (atribuível à carótida), com placas carotídeas ≥ 2mm. Foram excluídos aqueles pacientes com estenose carotídea ≥ 70%, o dissecção. O desfecho primário (DP) foi uma combinação de AVC isquêmico recorrente ou AIT. Os desfechos secundários (DS) compreenderam AVC isquêmico recorrente e AVC isquêmico recorrente ipsilateral ou AIT. 

Foram obtidos dados de 196 pacientes, dentre os quais 104 tinham sido diagnosticados como criptogênicos. 29% deles tiveram uma PCC ipsilateral de base. Em média, 21 pacientes apresentaram recorrência do AVC isquêmico ou AIT. 

O índice de incidência do DP foi significativamente maior nos pacientes com PCC ipsilateral (9,5 por 100 pacientes/ano) em comparação com os pacientes sem PCC (3,6 por 100 pacientes/ano; p = 0,025). Ajustado por idade e sexo, a PCC ipsilateral se associou a 2,5 vezes maior risco de recorrência em 3 anos (HR: 2,51, IC 95% 1,03-6,11; p = 0,043)

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Ao analisar as características das PCC por RM, a presença de cap fibroso roto se associou majoritariamente a eventos isquêmicos (HR: 2,61; IC 95% 1,01-7,05; p = 0,041), ao passo que a presença de hemorragia intraplaca se associou com um risco incrementado de eventos em pacientes com AVC criptogênicos (HR: 4,37; IC 95% 1,20-15,97; p = 0,026).

Conclusões

Este estudo evidenciou o que as PCC ipsilaterais, detectadas por Angio RM dentro dos 10 dias da AVC, associaram-se a maior risco de recorrência de AVC ou AIT. Tais resultados se deram principalmente nos pacientes diagnosticados como criptogênicos. Não se estudou se ditos pacientes deveriam receber tratamento médico mais agressivo ou intervenções carotídeas, mas a partir dos dados mostrados sobre a recorrência neste trabalho este deveria ser formulado como um campo a ser desenvolvido.

Dr. Omar Tupayachi

Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.

Titulo Original: Complicated Carotid Artery Plaques and Risk of Recurrent Ischemic Stroke or TIA.

Referência: Kopczak, Anna et al. “Complicated Carotid Artery Plaques and Risk of Recurrent Ischemic Stroke or TIA.” Journal of the American College of Cardiology vol. 79,22 (2022): 2189-2199. doi:10.1016/j.jacc.2022.03.376.


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