A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a doença cardiovascular se associam a internações e mortalidade.
A associação dessas duas doença com uma insuficiência mitral significativa não somente tem uma evolução negativa mas também limita a possibilidade de cirurgia valva por aumentar os risco de desfechos indesejáveis. O tratamento borda a borda com MitraClip demonstrou seu benefício em um grupo de pacientes, mas a informação que possuímos sobre o tema é bastante limitada. Apenas alguns relatórios, como os do COAPT, analisaram os resultados nessa população.
Foram analisados 340 pacientes com insuficiência mitral severa que receberam tratamento borda a borda com MitraClip. Dentre eles, 82 apresentaram DPOC (24,1%) definido por testes funcionais pulmonares e pelos critérios GOLD.
Dentre os pacientes com DPOC, 26 evidenciaram estágio GOLD 3 ou 4, ficando o resto dos pacientes no estágio 2.
Os grupos foram similares. Os pacientes que não apresentavam DPOC eram mais velhos. A proporção de homens foi maior no grupo DPOC. Não houve diferença em termos de comorbidades.
25% dos pacientes apresentaram insuficiência mitral primária, a fração de ejeção foi de 40%, o ORE foi de 36 mm2 e não houve diferenças nos valores ecocardiográficos.
O sucesso do procedimento foi similar para ambos os grupos: DPOC 97,4% vs. não DPOC 94,6% (p = 0,27). Tampouco houve diferenças em termos de mortalidade (4,9% vs. 5%; p = 0,95). Além disso, a mortalidade foi similar entre os DPOC GOLD 3-4 vs. os não DPOC.
Em 30 dias de seguimento não houve diferenças em mortalidade, mas sim uma tendência a mais re-hospitalizações nos que apresentavam DPOC (12,9% vs. 6,8%; p = 0,08).
Em um ano de seguimento não houve diferença em termos de mortalidade, mas houve uma tendência nos que apresentavam DPOC (31,2% vs. 20,6%; p = 0,06). Não houve diferenças em termos de re-hospitalizações por insuficiência cardíaca e ambos os grupos melhoraram a classe funcional sem ter sido observada divergências entre eles.
Tampouco houve diferenças no desfecho combinado de mortalidade e re-hospitalização por insuficiência cardíaca.
No ecocardiograma Doppler feito no final do primeiro ano de seguimento não houve diferença na presença de insuficiência mitral moderada ou severa.
Conclusão
O DPOC é altamente prevalente entre os pacientes que recebem tratamento borda a borda na insuficiência. Essa estratégia parece ser segura e efetiva no grupo que aqui nos ocupa. A severidade da DPOC e a alteração somente nos testes funcionais pulmonares não deveria ser considerada como uma contraindicação para o tratamento borda a borda da valva mitral.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Safety and efficacy of transcatheter mitral valve repair in patients with COPD; results from real‐world cohort.
Referência: Mhd Nawar Alachkar, et al. Catheter Cardiovasc Interv. 2022;100:145–153.
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