As lesões coronarianas calcificadas acometem 25% dos pacientes que são submetidos à ATC e sua presença tem um impacto negativo nos resultados de longo prazo. Ditas lesões geram uma dificuldade na expansão do stent e acarretam um aumento da falha dos dispositivos, mesmo dos stents de última geração eluidores de fármaco. Por tal motivo surge o interesse nas estratégias de preparação da lesão e no uso de imagens intravasculares com calcificações coronarianas.
Dois estudos randomizados avaliaram as estratégias de aterectomia rotacional (RA) e técnicas baseadas em balões utilizadas antes do implante de stents eluidores de fármacos. O estudo PREPARE-CALC (Comparison of Strategies to Prepare Severely Calcified Coronary Lesions), no qual a utilização de RA foi mais bem-sucedida quando comparada com balões para modificar a lesão (cutting/scoring balloon), e o estudo ISAR-CALC (Comparison of Strategies to Prepare Severely Calcified Coronary Lesions), no qual o balão de alta pressão demonstrou superioridade angiográfica quando comparado com o scoring balloon. Em ambos os trabalhos utilizou-se OCT para avaliar a expansão dos stents e comparar os grupos.
O objetivo deste estudo – resultante de uma análise dos dois trabalhos randomizados e multicêntricos mencionados – foi comparar a performance da RA e as técnicas baseadas em balões (scoring/cutting e balão de alta pressão) antes do implante de DES avaliadas mediante angiografia e OCT.
O desfecho primário (DP) foi a expansão do stent avaliado por OCT. O desfecho secundário (DS) foi a excentricidade do stent, a assimetria, o incremento do lúmen por angiografia, o sucesso da estratégia e eventos cardiovasculares definidos como morte cardiovascular, IAM do vaso tratado e necessidade de repetir a revascularização.
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Foram analisados 200 pacientes, dentre os quais 63 foram submetidos a RA, 103 foram tratados com scoring/cutting balloon e 34 com balões de alta pressão. A maioria dos pacientes eram homens e apresentavam doença de múltiplos vasos. A artéria mais frequentemente tratada foi a descendente anterior, e 40% dos casos envolvia uma bifurcação. As lesões tratadas com RA ou scoring/cutting balloon tinham mais calcificação e tortuosidade.
Em relação aos resultados, a preparação da lesão com RA, com scoring/cutting balloon ou balão de alta pressão não apresentou diferenças no que se refere à expansão (p = 0,49) e assimetria do stent (p = 0,83). O uso de balão de alta pressão se associou a menos excentricidade em comparação com RA ou cutting/scoring balloon (p = 0,03), sem diferenças entre estes últimos. O sucesso da estratégia foi mais frequente com RA do que com scoring/cutting balloon (p = 0,002) e com balão de alta pressão (p = 0,06). Não houve diferenças nos resultados clínicos entre os dois grupos.
Conclusão
Em pacientes com lesões coronarianas severamente calcificadas que são submetidos a ATC com implante de DES, a preparação da lesão com RA, cutting/scoring balloon ou balão de alta pressão está associada a uma similar expansão do stent quando os pacientes são avaliados com OCT. Os balões de alta pressão se associaram a uma menor excentricidade dos stents, ao passo que o sucesso da estratégia é mais frequente com o uso de RA. O impacto clínico dos achados aqui descritos demanda maiores investigações.
Dr. Andrés Rodríguez.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Rotational Atherectomy or Balloon-Based Techniques to Prepare Severely Calcified Coronary Lesions.
Referência: Tobias Rheude, MD et al J Am Coll Cardiol Intv 2022;15:1864–1874.
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