Observou-se um aumento no diagnóstico de pacientes com isquemia demonstrada que não apresentaram lesões coronarianas obstrutivas (definidas como a ausência de estenose ≥ 50%), o que se definiu com o termo INOCA. Tais pacientes apresentaram um risco aumentado de eventos cardiovasculares maiores (MACE) em comparação com a população normal.
No ISCHEMIA, um dos estudos de maior relevância dos últimos anos, foram incluídos pacientes que apresentavam isquemia moderada a severa em testes funcionais, sendo randomizados a tratamento médico vs. angioplastia. No entanto, houve 21% dos pacientes incluídos que não apresentaram doença coronariana obstrutiva na angiotomografia de admissão, motivo pelo qual não foram levados em conta para a randomização final.
O objetivo desta análise do ISCHEMIA foi caracterizar os pacientes com INOCA em relação a suas características clínicas e ao grau de isquemia.
Os métodos evocadores de isquemia usados foram estudos de perfusão miocárdica (PET), ecocardiograma de estresse e ressonância magnética. A severidade da isquemia foi determinada por um laboratório central independente (Core Lab). Foram excluídos aqueles pacientes que não foram submetidos a angioTC ou que previamente tinham sido submetidos a uma cirurgia de reperfusão miocárdica ou angioplastia coronariana.
Dos 4211 participantes iniciais, 688 não apresentavam obstruções coronarianas ≥ 50% na tomografia (16,3% INOCA). Foram excluídos 212 pacientes com isquemia leve ou sem isquemia, motivo pelo qual a coorte final analisada foi de 476 pacientes. Dentre os pacientes com INOCA, 27,3% apresentaram coronárias normais e os outros apresentaram algum grau de estenose.
Comparados com os pacientes que apresentavam obstrução coronariana significativa, os pacientes com INOCA e isquemia moderada a severa eram mais jovens (idade média de 60 anos vs. 63 anos; p < 0,001) e com maior tendência do sexo feminino (53,6% vs. 20,6%; p < 0,001). A proporção de pacientes com diagnóstico de INOCA ocorreu principalmente entre aqueles nos quais o quadro isquêmico foi moderado.
O odds-ratio para o diagnóstico de INOCA entre mulheres em comparação com homens foi de 4,2 (IC 95%: 3,4-5,2; p < 0,001). Entretanto, ao analisar as diferenças de doença não obstrutiva com relação ao sexo, observou-se que tanto a quantidade de segmentos quanto o escore de comprometimento segmentar foi maior nos homens (p < 0,001).
Leia também: Lesões coronarianas não obstrutivas e disfunção ventricular.
Foi feita uma análise multivariada na qual se observou que a determinação de doença obstrutiva se associou à idade mais jovem, sexo feminino, ausência de diabetes, ausência de IAM prévio e menor índice de isquemia severa.
Conclusões
Nesta análise de pacientes incluídos no ISCHEMIA Trial observou-se INOCA em 13% da população, motivo pelo qual, ao avaliar pacientes com isquemia moderada a severa é fundamental levar em conta outras variantes causadoras de isquemia evidentes além da doença aterosclerótica, como podem ser a disfunção microvascular, o fluxo de reserva reduzido, espasmos coronarianos, etc.
Dr. Omar Tupayachi.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Ischemia With Non obstructive Coronary Arteries.
Fonte: Reynolds HR, Diaz A, Cyr DD, Shaw LJ, Mancini GBJ, Leipsic J, Budoff MJ, Min JK, Hague CJ, Berman DS, Chaitman BR, Picard MH, Hayes SW, Scherrer-Crosbie M, Kwong RY, Lopes RD, Senior R, Dwivedi SK, Miller TD, Chow BJW, de Silva R, Stone GW, Boden WE, Bangalore S, O’Brien SM, Hochman JS, Maron DJ; ISCHEMIA Research Group. Ischemia With Nonobstructive Coronary Arteries: Insights From the ISCHEMIA Trial. JACC Cardiovasc Imaging. 2022 Sep 13:S1936-878X (22)00406-5. doi: 10.1016/j.jcmg.2022.06.015. Epub ahead of print. PMID: 36115814.
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