A prevalência das dissecções coronarianas espontâneas (SCAD) é de aproximadamente 4% das síndromes coronarianas agudas. Embora os guias atuais sugiram o tratamento conservador sempre que este é possível do ponto de vista clínico, ainda existe incerteza sobre os possíveis benefícios de realizar uma angioplastia coronariana (ATC) como estratégia inicial para prevenir a progressão da doença e seus efeitos adversos associados. Pelo fato de não dispormos de estudos randomizados, a escolha entre a estratégia conservadora e a invasiva de ATC se baseia nas recomendações de especialistas, bem como em estudos observacionais e metanálises.
O objetivo deste estudo multicêntrico, observacional e retrospectivo do registro DISCO (Dissezioni Spontanee Coronariche) foi pesquisar a prevalência da ATC ou do tratamento médico como estratégia inicial e os resultados clínicos.
O desfecho primário (DP) foi a taxa de eventos adversos cardiovasculares maiores (MACE), definido como a combinação de morte por qualquer causa, infarto agudo do miocárdio (IAM) não fatal e ATC não planejada. Também foram avaliados os componentes individuais do DP e o sangramento intra-hospitalar.
Foram incluídos na análise um total de 369 pacientes, dos quais 129 (35%) foram submetidos a ATC, ao passo que 240 (65%) foram tratados com uma abordagem conservadora. A idade média dos pacientes foi de 53 anos e a maioria da população esteve composta por mulheres. No ramo ATC, observou-se uma menor prevalência de hipertensão arterial (26% vs. 41%, p = 0,007), uma apresentação mais frequente de infarto agudo do miocárdio com elevação do segmento ST (IAMCEST) (68% vs. 35%, p = 0,007) e uma maior incidência de parada cardíaca reanimada (9% vs. 3%, p = 0,032). Além disso, apresentaram pacientes com fração de ejeção reduzida e estadia hospitalar mais prolongada. Em relação às características do procedimento, o acesso radial foi o mais utilizado e a artéria mais afetada foi a descendente anterior, seguida da artéria circunflexa. Depois de realizar uma análise multivariada, encontrou-se que a apresentação com IAMCEST (OR 3,30 [95% CI 1,56–7,12]; p = 0,002), o comprometimento do segmento proximal da coronária (OR 5,43 [95% CI 1,98–16,45]; p = 0,002), o fluxo TIMI 0-1 (OR 3,22 [95% CI 1,08–9,96]; p = 0,038) e fluxo TIMI 2 (OR 3,98 [95% CI 1,38–11,80]; p = 0,009), assim como a gravidade do diâmetro luminal (OR 1,13 [95% CI 1,01–1,28]; p = 0,037) se associaram a uma maior probabilidade de submetimento a ATC. Por outro lado, o subtipo angiográfico 2b foi um preditor independente de tratamento conservador.
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No tocante ao DP, a incidência de MACE intra-hospitalar foi de 6,9% no grupo ATC vs. 8,3% no grupo de tratamento médico (p = 0,795). Não foram observadas diferenças significativas quanto à taxa de morte intra-hospitalar, IAM ou necessidade de repetir a ATC (0,7% vs. 0,4%, p = 0,532; 4,7% vs. 5,8%, p = 1 e 6,2% vs. 6,7%, p = 0,956, respectivamente). A taxa de sangramento foi de 3,9% no grupo ATC, mostrando uma tendência estatisticamente significativa (p = 0,053). Em 2 anos, o DP ocorreu em 13,9% dos pacientes que foram submetidos a ATC em comparação com 11,7% daqueles que receberam tratamento médico conservador (p = 0,467).
Conclusão
A escolha entre uma abordagem conservadora ou invasiva de SCAD é levada a cabo pela apresentação clínica e pelos aspectos do procedimento, incluindo a severidade da estenose, o tipo angiográfico de SCAD e o comprometimento de segmentos proximais. Nesta subanálise do DISCO, a estratégia primária inicial não mostrou diferenças significativas no que se refere a eventos adversos a curto e médio prazo. Apesar do tamanho da amostra e do desenho observacional, estes resultados estabelecem novas hipóteses para futuras pesquisas.
Dr. Andrés Rodríguez.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Interventional Versus Conservative Strategy in Patients With Spontaneous Coronary Artery Dissections: Insights From DISCO Registry.
Referência: Stefano Benenati et al Circ Cardiovasc Interv. 2023;16:e012780.
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