A insuficiência mitral (IM) secundária é uma causa comum de insuficiência cardíaca e se associa a hospitalizações por insuficiência cardíaca e maior mortalidade.
O tratamento conhecido como borda a borda (TEER), somado ao tratamento médico completo conforme as diretrizes (CDMT) demonstrou ser benéfico nos pacientes de alto risco, como ficou evidenciado no estudo COAPT. No entanto, há um grupo significativo de pacientes que são candidatos a essa estratégia e podemos afirmar que na atualidade a substituição valvar percutânea (TMVR) pode ser considerada uma opção válida, embora não haja estudos randomizados disponíveis.
Na análise do Registro COICE MI foram avaliados pacientes de alto risco para a cirurgia nos quais se implantou um dispositivo dedicado para a válvula mitral devido ao fato de não serem candidatos a TEER. Ditos pacientes foram comparados com o grupo de tratamento médico completo do estudo COAPT.
Fez-se um propensity score match e foram selecionados 97 pacientes para cada grupo.
O desfecho clínico (DC) avaliado foi a mortalidade por qualquer causa, a mortalidade cardiovascular e as hospitalizações por insuficiência cardíaca durante um período de 2 anos.
A idade média foi de 73 anos, 58% da população estava composta por homens, 28% apresentava diabetes, 20% DPOC, a metade tinha fibrilação atrial, 55% tinha sofrido um infarto, 70% tinha doença coronariana, 48% tinha sido submetido a ATC, 32,5% a cirurgia de revascularização miocárdica (CRM), 6% a TAVI ou RVAO, 20% apresentava doença vascular periférica, 14% AVC ou TIA e 47% tinha um FG estimado de 30 ml/min.
A maioria dos pacientes se encontrava em classe funcional III-IV e a hospitalização tinha tido lugar no ano anterior. O risco cirúrgico, avaliado mediante o EuroSCORE foi de 6%.
A fração de ejeção foi de 36% em média, todos os pacientes apresentavam IM severa, o ORE era de 40 mm e não foram observadas diferenças significativas nos diâmetros ventriculares, na PSAP nem na insuficiência tricúspide.
Em 30 dias, não foram constatadas diferenças significativas em termos de mortalidade (5,2% vs. 2,1%, p = 0,25 para TEER e GDMT, respectivamente).
Não foram observadas diferenças significativas em DC em 2 anos (50,6% vs. 67,1%; HR 0,73 [95% CI, 0,49–1,11]; p = 0,14 para TEER e GDMT). Tampouco houve diferenças na mortalidade por qualquer causa (36,8% vs. 40,8%, p = 0,98), na mortalidade cardiovascular (24,9% vs. 32,7%, p = 0,58) nem na combinação de mortalidade cardiovascular e internações por insuficiência cardíaca (46,,4% vs. 63,7%; p = 0,10). No entanto, observou-se uma menor incidência de internações por insuficiência cardíaca nos pacientes tratados com TEER em comparação com os grupo tratado com GDMT (32,8% vs. 54,4%; pa = 0,04).
Embora ambos os grupos tenham experimentado melhoras na classe funcional, observou-se uma melhora mais significativa nos pacientes tratados com TMVR tanto em um ano com em dois anos.
Em dois anos, os pacientes nos quais se implantou o dispositivo mostraram uma redução na insuficiência mitral e nos volumes ventriculares, mas não foram encontradas diferenças na fração de ejeção.
Conclusão
Este estudo observacional, que comparou o tratamento percutâneo de substituição mitral secundária durante um seguimento em 2 anos, demonstrou uma redução significativa na insuficiência mitral, melhora nos sintomas e menos hospitalizações por insuficiência cardíaca, com uma mortalidade similar em comparação com o tratamento médico completo conforme as diretrizes.
Dr. Carlos Fava.
Membro do Conselho Editorial da SOLACI.org.
Título Original: Transcatheter Mitral Valve Replacement Versus Medical Therapy for Secondary Mitral Regurgitation: A Propensity Score–Matched Comparison.
Referência: Sebastian Ludwig, et al. Circ Cardiovasc Interv. 2023;16:e013045. DOI: 10.1161/CIRCINTERVENTIONS.123.013045.
Subscreva-se a nossa newsletter semanal
Receba resumos com os últimos artigos científicos